Biden promete neutralidade do carbono do governo dos EUA até 2050

Biden agenda climática

Com seu plano trilionário de retomada econômica verde travado no Congresso dos EUA, o presidente Joe Biden tenta fechar seu primeiro ano no comando da maior economia do mundo com alguma vitória relevante na frente climática. Nesta semana, a Casa Branca emitiu uma série de ordens executivas que determinou ao governo federal uma meta de descarbonização líquida total até 2050. Pela ordem, toda a burocracia federal dos EUA precisará acabar com o uso de veículos movidos a combustíveis fósseis e adaptar sua infraestrutura para funcionar com base em fontes renováveis de energia, além de aproveitar licitações e compras governamentais para promover tecnologias limpas na economia norte-americana.

As ordens de Biden colocam o governo dos EUA em um caminho de ambição climática, mas as entrelinhas deixam tudo isso em um oceano de incertezas. Por se tratarem de decretos executivos, essas decisões poderão ser livremente anuladas por outro presidente no futuro, tal como Donald Trump fez com diversas ordens executivas assinadas pelo antecessor Barack Obama.

Além disso, o ponto central da agenda climática de Biden segue parado no Congresso dos EUA: o plano Build Back Better, que prevê a injeção de US$ 1,7 trilhão na reforma, reconstrução e adaptação de infraestruturas, ainda está em tramitação no Legislativo, sem perspectivas de avanços substanciais no curto prazo – à despeito de o Partido Democrata de Biden ter controle sobre as duas Casas Legislativas.

Associated Press, Bloomberg, NY Times, Wall Street Journal e Washington Post repercutiram a decisão de Biden.

Em tempo: Vale a pena ler o artigo do professor Adam Tooze (Universidade de Columbia) na Foreign Policy. O argumento é provocador: a corrida global pela economia descarbonizada pode deixar os Estados Unidos, a grande potência da era do carbono, para trás. Esse diagnóstico parte principalmente das condições político-econômicas da transição energética nos EUA: para ele, uma transição acelerada pode provocar um choque econômico na maior economia do planeta, ainda imersa em discussões políticas e econômicas sobre a questão climática. Isso se torna mais evidente se considerarmos o papel único dos EUA como grande produtor de petróleo e grande consumidor de combustíveis fósseis, o que traz eventuais problemas na oferta e na demanda de energia fóssil para o coração da economia norte-americana. Uma solução para essa questão não é simples, especialmente no ambiente político conflituoso dos EUA, mas Tooze tem uma sugestão. “Se a transição energética realmente criar raízes na economia política peculiar dos EUA, pode ser melhor visualizá-la em termos bem diferentes, divorciados da questão climática. Poderia ser uma transformação agroindustrial, oferecendo eletricidade eólica e solar ultra-baratas como um novo denominador comum dos EUA rural e urbano”.

 

ClimaInfo, 10 de dezembro de 2021.

Clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.