A corrida (e os atalhos suspeitos) pela água no Cerrado baiano

água Cerrado

Nos últimos anos, o Brasil se acostumou a ver no noticiário situações de crise hídrica em diversos pontos do país. A falta de chuvas e, por tabela, de água evidenciou como esse recurso natural vital está ficando escasso em tempos de crise climática, o que impulsionou mudanças nos costumes de consumo hídrico das famílias e empresas.

Nada disso parece ter sensibilizado o agronegócio no oeste da Bahia, que vive um boom em uma das últimas fronteiras de desmatamento do Cerrado. Lá, o agro avança sobre estoques de água, passando por cima de comunidades ribeirinhas, pescadores e pequenos agricultores. A Pública fez uma série mostrando como o uso da água se tornou ponto de conflito no Cerrado baiano.

Uma das reportagens destacou o papel de Márcia Cristina Telles, secretária do meio ambiente e ex-diretora-geral do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA), na liberação de licenças ambientais e de outorgas de uso de recursos hídricos. Em maio passado, quando Telles assumiu interinamente o cargo na secretaria (ela foi efetivada no último dia 4 pelo governador Rui Costa), um grupo de organizações socioambientais da Bahia a acusou de transformar o INEMA em um mero “cartório” em favor dos grandes interesses econômicos. Outra reportagem mostrou o caso da SLC, uma das principais beneficiadas de outorgas de recursos hídricos no Cerrado baiano, com autorização para captar e utilizar mais de 145 milhões de litros de água subterrânea por dia na bacia do rio São Francisco. A empresa tem entre seus acionistas até mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Com o grande agro fazendo a festa, quem fica sem água são os que mais dependem dela para sua subsistência. Onde antes a água era abundante e de fácil acesso, agora há terra ressecada pelo recuo das margens de rios e riachos da bacia do São Francisco.

 

ClimaInfo, 15 de dezembro de 2021.

Clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.