Enchentes evidenciam despreparo do Brasil para eventos climáticos extremos

enchentes Bahia Minas Gerais

Moradores e autoridades no sul da Bahia começaram a semana estimando o tamanho do impacto das chuvas que atingiram a região na última semana – a pior tempestade em mais de três décadas. Em todo o estado, 11 mortes foram confirmadas até o final desta 3ª feira (14/12); as chuvas também deixaram 51 municípios em situação de emergência, 6,3 mil pessoas desabrigadas e 15,1 mil desalojados.

Estadão, Folha, g1 e O Globo mostraram a situação nos municípios mais afetados pela chuva, como Itamaraju e Medeiros Neto. Com o recuo da água, moradores voltaram às suas casas na 2ª feira e encontraram um cenário digno de guerra: móveis e roupas arruinados, cômodos desabados e muita lama nas residências e ruas.

A Folha também destacou o impacto das chuvas no nordeste de Minas Gerais. Desde o começo da temporada chuvosa, em outubro passado, o estado contabiliza mais de 9,5 mil pessoas desalojadas e 1,9 mil desabrigadas, além de cinco mortes.

A proporção do desastre causado pelas chuvas na Bahia e em Minas Gerais mostra o despreparo do Brasil para lidar com a intensificação de eventos climáticos extremos. Esse despreparo é agravado pela completa falta de interesse do governo federal e da maior parte dos governos estaduais e municipais em minimizar esse risco e adaptar a infraestrutura urbana e rural para fenômenos extremos.

“Parte das mortes poderia ser evitada com a construção de moradias populares decentes, medidas eficazes de alerta com antecedência às comunidades e o poder público parando de encarar o aquecimento global como uma hipótese remota e adaptar urgentemente o Brasil para o pior”, escreveu Leonardo Sakamoto no UOL. “O que temos visto, contudo, é o governo federal e sua base de apoio no Congresso Nacional correndo para afrouxar regras e leis [ambientais]”.

“É preciso preparar a população para esse novo normal do clima. A palavra chave é adaptação”, observou André Trigueiro no GloboNews em Pauta. Trigueiro lembrou que o próprio Congresso Nacional ignorou esse problema ao aprovar uma modificação no Código Florestal que eliminou a proteção mínima de vegetação nas margens de corpos d’água, o que pode resultar na derrubada de matas ciliares, piorando o risco de eventos como enchentes. “Eu tenho dúvidas se isso é má fé, analfabetismo ambiental, pressão do lobby imobiliário. A resultante disso é péssima”.

Em tempo: O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou de forma unânime a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que revogou normas de proteção de áreas de manguezais e de restinga. A relatora, ministra Rosa Weber, classificou a medida do CONAMA, patrocinada por um ex-ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro, como “verdadeiro retrocesso relativamente à satisfação do dever de proteger e preservar o equilíbrio do meio ambiente”. Todos os demais ministros da Corte seguiram o voto da relatora, incluindo Kassio Nunes Marques, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. g1 e O Globo repercutiram a decisão do STF.

 

ClimaInfo, 15 de dezembro de 2021.

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