Oito ou oitenta: quanto vale um crédito de carbono

créditos de carbono

A procura por offsets – créditos de carbono usados para compensar emissões de gases de efeito estufa – disparou no ano passado em função de um número crescente de empresas querendo limpar seu karma.

Embora existam certificadoras emitindo estes créditos, existe um clamor por uma regulamentação global que possa separar o trigo dos créditos críveis, do joio das infinitas formas de falsear reduções de emissão e de remoções de CO2 da atmosfera.

Nos primeiros tempos, os mercados de carbono tiveram um papel interessante ao promover as fontes limpas de eletricidade. Atualmente, estas têm preços competitivos o suficiente para prescindirem dos créditos, e as principais certificadoras já não aceitam mais este tipo de projetos. A bola da vez são as soluções baseadas na natureza – seja ao evitar a destruição de florestas, seja para recuperá-las.

David Baker, no Bloomberg, diz que regras muito restritivas fariam o preço do carbono disparar e afastar boa parte do mercado. Por outro lado, regras muito frouxas facilitariam a entrada de projetos de qualidade duvidosa em quantidade o suficiente para o preço do carbono despencar e torná-lo uma ferramenta inútil para endereçar a mudança climática.

No momento, os preços seguem aumentando, como conta o Financial Times. Citando uma pesquisa da S&P Global Platts, diz que o preço da tonelada de carbono de projetos florestais e ecossistêmicos triplicou no ano passado. Se até há pouco tempo, o preço era definido pelos compradores, o jogo agora está na mão dos vendedores.

O artigo não menciona que parte importante desta demanda crescente vem do setor fóssil, ansioso por carimbar “carbono zero” em cargas de gás natural e até em containers de carvão mineral, “esquecendo” que não haverá como conter o aquecimento global em qualquer limite enquanto os combustíveis fósseis seguirem sendo queimados.

O debate quanto à qualidade dos créditos é tema de outra matéria da Bloomberg: o diretor de sustentabilidade de um banco sueco diz que foi procurado por muitos que acham que merecem receber para não poluir. Algo aliás semelhante ao que o governo Bolsonaro vem dizendo a respeito da proteção à Floresta Amazônica.

O site do Fórum Econômico Mundial (WEF) traz um artigo assinado por um executivo do grupo RGE da Indonésia apontando que o balanço de emissões de um projeto ou atividade é apenas parte da história. Soluções baseadas na natureza, segundo ele, não fazem sentido sem abranger a paisagem (ou ecossistema) toda e a integração de comunidades locais e populações nativas.

 

ClimaInfo, 13 de janeiro de 2022.

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