Cargill segue comprando de grãos de áreas desmatadas

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A Cargill, uma das maiores traders mundiais de commmodities agrícolas, descumpre sua promessa de combater o desmatamento, violando a Moratória da Soja estabelecida desde 2008. Uma investigação do Repórter Brasil descobriu que a empresa assinou um contrato de compra de grãos ao longo da próxima safra deste ano com uma fazenda em São José do Xingu, MT, a qual desmatou, ilegalmente, cerca de 800 ha entre 2013 e 2015. O Guardian também comentou a investigação ligando os grãos à ração animal distribuída em todo o mundo pela Cargill.

A Acapu, árvore amazônica, está na Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção na categoria Vulnerável “Em Perigo”. Apesar disso, como escreve Roberto Porro, n’((o))eco, “imagens de dezenas de árvores de Acapu tombadas na floresta, para um destino muito [pouco] nobre: serem transformadas em estacas com pouco mais de dois metros de altura, para serem utilizadas aos milhares nas cercas construídas ao redor de pastagens para a criação extensiva de bovinos que, a despeito do discurso vigente, vêm sendo instaladas em ritmo alucinante nos confins da chamada fronteira agrícola, para além das estradas vicinais na região da rodovia Transamazônica.”

A questão da extração ilegal de madeira é mais abrangente do que as cargas para exportação. Dizima espécies que deveriam ser protegidas e praticamente inviabiliza a exploração madeireira legalizada.

Daniel Vargas, professor da FGV Agro SP, escreveu no Globo Rural sobre a correlação entre pobreza e desmatamento, constatando que os municípios da “nova” linha reta do desmatamento são os que apresentam menor PIB na região. Embora seja imprescindível melhorar as condições de vida da população, aliás, do país inteiro, Vargas não comenta o alto custo do desmatamento e que sua causa raiz não é a pobreza. Como vários trabalhos vêm mostrando, a grilagem de Terras Públicas e o corte ilegal em propriedades privadas têm sido os reais motores.

Fabiano Maisonnave fala, na Folha, sobre o impacto da destruição da biodiversidade de uma reserva extrativista na divisa entre o Amazonas e Roraima, onde a “negligência de órgãos ambientais federais se soma à crise climática, agravando a situação de ribeirinhos e criando o risco de desaparecimento de tartarugas.” Ele conta que a grande seca de 2015-16 criou as condições para incêndios enormes, deixando apenas troncos queimados. Choveu acima da média no ano passado, alagando a reserva, acentuando os problemas da reserva e os ribeirinhos que lá moram.

Em tempo 1: A intenção manifestada por vários países do mundo em parar de importar produtos associados ao desmatamento está preocupando produtores de grãos e carne na Argentina, por conta do desmatamento do Gran Chaco. A União Europeia incluiu o Chaco na lista de biomas sensíveis e, portanto, sujeitos às restrições de importações. A notícia é do UOL. No início do ano, o Estadão publicou uma matéria sobre a preocupação de analistas militares e civis do governo brasileiro sobre estas restrições. Eles entendem que há uma mudança em curso em relação ao desmatamento, migrando estritamente da pauta ambiental para as ameaças à segurança global por conta da mudança do clima.

Em tempo 2: O desmatamento das florestas tropicais da África Ocidental está aumentando a frequência e a intensidade das tempestades na região e, também, o risco de enchentes-relâmpago (flash floods) nas cidades litorâneas. Esta é a principal conclusão de uma pesquisa publicada na PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences). Segundo matéria do The Conversation, “as áreas desmatadas aquecem mais do que o resto da floresta durante o dia. Este aquecimento acentua brisas locais, e estas circulações atmosféricas podem desencadear tempestades.”

 

ClimaInfo, 17 de janeiro de 2022.

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