Verão de extremos coloca em xeque condição econômica do agronegócio

28 de janeiro de 2022
economia agronegócio

O Valor Econômico ouviu projeções de instituições financeiras como BNP Paribas, Barclays, Itaú, Banco Fibra, Rabobank e FGV Ibre. As projeções divergem ligeiramente, mas são unânimes em dois pontos: 1) a contribuição do agro para o PIB nacional caiu; 2) a razão da queda é o clima extremo.

O clima extremo levou a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) a rever para 135,8 milhões de toneladas a projeção para a safra brasileira de soja. Em dezembro, a projeção era de 144,8 milhões de toneladas, segundo a Globo Rural. Na Argentina, a situação não é melhor: a quebra na safra do milho causada pelo clima é estimada em 60%, segundo a Reuters.

Se a contribuição do agro para o PIB diminuiu, o mesmo não se pode dizer da inflação: o IPCA-15 mostra que os preços de alimentos e bebidas subiram em janeiro pelo 18º mês consecutivo. Mesmo com o fim da sequência de 15 dias consecutivos de temperaturas acima dos 40°C no Rio Grande do Sul, o economista André Braz, do FGV Ibre, advertiu em entrevista à Folha que o impacto da estiagem pode ampliar a carestia nos próximos meses. O MetSul considera provável que jamais na história gaúcha tenha havido um período tão longo de dias consecutivos acima de 40°C.

A estiagem e as temperaturas passando dos 40°C forçaram cerca de 300 dos 497 municípios gaúchos (60%) a decretar situação de emergência. Como se isso não fosse problema suficiente, o governo do estado e representantes do agronegócio querem recursos para cobertura de prejuízos, abertura de 750 poços artesianos, açudes, cisternas, e até barramentos em Áreas de Preservação Permanente (APPs).

Pelas propostas, as obras teriam licenciamento facilitado e poderiam afetar margens de rios, córregos e outras APPs protegidas pela legislação federal.

Para ((o))eco, Aldem Bourscheit ouviu diversos especialistas – entre eles, o geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, quem cravou:  “As medidas anunciadas são para inglês ver e para passar a boiada na legislação ambiental. Não há condições técnicas e econômicas para fazer tantos poços e outras obras em tempo recorde”.

Bourscheit citou um estudo publicado na revista Principles of Responsible Investment mostrando que as estiagens são o fenômeno climático mais comum no Brasil nas últimas duas décadas. Junto com temperaturas extremas, elas causaram perdas de R$ 45 bilhões no agro no Sul e Centro-Oeste.

Em tempo: Os pagamentos de seguro para fazendeiros norte-americanos que perderam suas plantações para secas e inundações mais que triplicaram nos últimos 25 anos, de acordo com uma análise de dados federais do Grupo de Trabalhos Ambientais (EWG) publicada ontem (27/1). Segundo a CNN Brasil, o relatório alerta para os aumentos nos seguros de lavoura que certamente virão com as mudanças climáticas. A Reuters também escreveu sobre o relatório.

 

ClimaInfo, 28 de janeiro de 2022.

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