Em meio a desastres naturais, governos cortam verba para prevenção e monitoramento de risco

Cemaden verbas

A crise climática que turbinou as condições meteorológicas que causaram  precipitações totalmente fora da curva em Petrópolis é causada pela atividade humana. Da mesma forma, a falta de preparo do município também foi causada pelo homem. Neste final de semana, uma série de matérias mostram como a região serrana do Rio de Janeiro não recebeu os investimentos prometidos há 11 anos, quando um temporal deixou um saldo de 918 mortos.

A BBC informou que o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), teve em 2021 o menor orçamento desde sua criação, em 2011: foram apenas R$ 17,9 milhões em verbas federais. Para comparação, em 2012, foram R$ 90,7 milhões. A falta de verbas explica porque a ETR-Estação Total Robotizada (equipamento capaz de detectar a movimentação de terra e, assim, ajudar a detectar possíveis deslizamentos nos morros) que foi entregue à Petrópolis pelo Cemaden em 2015 não estava no município no começo deste ano. Assim como nos outros oito municípios-piloto que receberam o equipamento, a ETR de Petrópolis precisou ser retirada para manutenção – a qual nunca aconteceu por falta de verbas.

No Estadão, Roberta Jansen informa que o Ministério do Desenvolvimento Regional empenhou R$ 60,2 milhões para as obras de contenção de encostas, mas apenas R$ 41,4 milhões foram pagos aos municípios. O governo do Rio, por sua vez, admitiu que ainda não havia aplicado um terço da verba (cerca de R$ 500 milhões) prometida. Levantamento feito pelo gabinete do deputado estadual Carlos Minc (PSB) revela que, somados, os recursos destinados à prevenção de desastres naturais que não foram investidos nos últimos dois anos somam quase R$ 400 milhões.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Pedro Luiz Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explicou que a tragédia em Petrópolis foi anunciada: “Em 2017 foi divulgado o plano anual de redução de riscos, onde se apontava que 18% da área do município, cerca de 15 mil casas na região central, estava situada em região de risco. Havia a sugestão para a realização de uma série de obras, como contenção de encostas, desassoreamento de rios, reflorestamento de encostas, remoção das populações em área de risco e absolutamente nada foi feito nos últimos cinco anos”. Para ele, a situação poderia ter sido evitada se as autoridades tivessem utilizado os dados que tinham à disposição. A mesma tese é defendida nesta matéria da AP.

Celso Santos Carvalho, ex-diretor do Ministério das Cidades e membro da coordenação nacional da Rede BrCidades, afina o olhar no Le Monde Diplomatique. Seu texto explica porque não faltam conhecimento, planejamento nem orçamento para tirar as pessoas das áreas de riscos a desastres naturais, mas faltam investimento nas periferias com transparência e participação social.

O Globo desenvolveu um infográfico explicando as causas meteorológicas da tragédia de Petrópolis. Na Jovem Pan, o gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, Henrique Evers, explicou a relação entre o clima e o aumento dos desastres naturais em diferentes regiões do país.

 

ClimaInfo, 21 de fevereiro de 2022.

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