Intensificação da crise climática pode derrubar PIB brasileiro e triplicar inundações, diz IPCC

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São mais de 2.500 páginas e 34 mil artigos científicos citados no novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Tem muita informação sobre o Brasil e alguns dos prognósticos referem-se a situações que já estamos experimentando:

– Algumas regiões do país podem chegar a aumentos de 2oC a 6oC na temperatura média, o que coloca o Brasil entre os mais vulneráveis às ondas de calor extremo.

– Para a Amazônia, o risco de uma transição gradual de floresta tropical para savana começa a aumentar em um nível entre 1,5°C e 3°C, com um valor médio em 2°C.

– Até o fim do século, o aquecimento global deve reduzir em 27% a vazão da bacia do rio Tapajós e em 53% a da bacia do Araguaia-Tocantins, ambas tributárias do rio Amazonas.

– A mudança da floresta tropical para pastagens secas na Amazônia pode reduzir 40% das chuvas, afetando sua distribuição nos Sul e Sudeste.

– A precipitação média anual no país deve cair 22% ao longo do século, caso as emissões continuem em alta. A mudança no padrão hidrológico põe todo o país sob risco de insegurança alimentar.

– As chuvas cairão mais concentradas e em períodos menos regulares. Haverá aumento de chuvas e inundações no Sudeste, onde estão as maiores cidades do país, como São Paulo e Belo Horizonte. A população afetada por enchentes e deslizamentos de terra no Brasil pode dobrar ou até triplicar nas próximas décadas, mesmo se a meta do Acordo de Paris (1,5°C) for alcançada.

– As inundações aumentam a ocorrência de doenças diarreicas, leptospirose e dermatites. O clima mais quente, por sua vez, facilita o aparecimento de zoonoses transmitidas por vírus. Em todo o país, há risco de epidemias severas causadas por vetores sensíveis ao clima.

– Caso as emissões continuem em alta, partes dos Norte, Nordeste e Centro-Oeste ficarão sujeitas a condições de calor perigoso por até 30 dias por ano, o que elevará as mortes por calor em 3% até 2050 e 8% até 2090.

– As secas devem se prolongar, afetando as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

– A previsão é que as chuvas diminuam mais 22% no Nordeste até 2100 se as emissões forem mantidas em patamar elevado. A região Nordeste está entre as mais sensíveis do continente a migrações forçadas pelo clima.

– Enquanto a renda média mundial deve cair 23% até 2100 com a continuidade das emissões de gases do efeito estufa, no Brasil essa perda pode chegar a 83% em relação ao que poderia ser sem os efeitos das alterações do clima.

– A produção agrícola nacional deve ser duramente atingida: a produção de arroz, por exemplo, pode ter queda de 6% com a manutenção de altas emissões ou 3% com cortes rápidos; a de trigo pode cair 21% no primeiro cenário ou 5% com cortes rápidos; a de milho, 10% com altas emissões ou 6% com cortes rápidos. No Cerrado, no entanto, a queda pode ser de até 71% para o milho. A combinação de emissões em alta com desmatamento local poderia causar uma queda de 33% na produção de soja e pastagens na Amazônia Legal.

– A criação de animais também deve sofrer impactos significativos no cenário em que as emissões continuam altas. As projeções apontam que gado bovino, galinhas e suínos passarão a sofrer estresse térmico durante a maior parte ou todo o ano no país. A produção de peixes, por sua vez, pode cair 36% e a de crustáceos e moluscos, até 97% entre e 2050-2070, em comparação com as projeções para 2030-2050.

Informações mais detalhadas sobre esses e outros impactos podem ser encontrados nesta e nesta matéria da Folha, no Estadão, O Globo e neste fio da Giovana Girardi no Twitter.  Nós, do ClimaInfo, também publicamos um resumo do que o novo relatório do IPCC fala sobre o Brasil. Na Folha, Fabiano Maisonnave dá um mergulho nos riscos que ameaçam o futuro da Amazônia – que, junto com o Nordeste, é também tema de artigo do cientista Paulo Artaxo publicado pelo Estadão.

Para o WWF-Brasil, o relatório do IPCC é um alerta ao Congresso – que tem em sua pauta de votações um pacote da destruição que pode nos colocar em uma trajetória de danos climáticos irreversíveis.

ClimaInfo, 3 de março de 2022.

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