Chuvas extremas causam enchentes e deixam milhares de desabrigados na Austrália

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O tempo literalmente fechou nesta semana na costa leste australiana. A região foi atingida por uma bomba de água (rain bomb), como é classificado esse tipo de evento climático extremo caracterizado por chuvas torrenciais, fortes ventos, trovões e queda de granizo com até seis centímetros de diâmetro.

As “condições climáticas traiçoeiras” deixaram mais de 500 mil pessoas sob alerta máximo de inundação ontem só em Sidney, cidade com mais de cinco milhões de habitantes e capital do estado de Nova Gales do Sul. Dezenas de milhares receberam ordem para evacuar suas casas na noite de 4ª feira (2/2), segundo a Reuters e o Guardian. Em Lismore, cidade com 28 mil habitantes no mesmo estado, agricultores e produtores de leite contabilizam os prejuízos das inundações – esse foi o terceiro desastre em três anos – relatou o jornal britânico, que mostrou como o evento foi formado. Pelo menos 14 pessoas morreram na região.

O estado de Queensland, incluindo a capital, Brisbane, foi o primeiro a ser atingido, ainda no final de semana. Mais de 18 mil casas inundadas. A infraestrutura urbana, incluindo os sistemas de drenagem de águas pluviais, não foi capaz de conter a vazão das águas, provocando inundações repentinas.

Vale lembrar que a necessidade de adaptação das cidades aos eventos extremos decorrentes da crise climática foi um dos alertas da segunda parte do sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) lançado na última 2ª feira (28/2). Em relato em primeira pessoa, o jornalista Andrew Stafford contou na seção de Opinião do Guardian ter sentido na pele o que é vivenciar uma emergência climática. “As coisas que ficarão comigo sobre o evento climático e as inundações subsequentes que ‘engoliram’ Brisbane e o sudeste de Queensland (…) foram a rapidez com que isto se desenrolou, sua imprevisibilidade caprichosa e a violência extrema”, disse. Em Brisbane, segundo ele, foram 739 milímetros em quatro dias – quase 75% da média anual. Em Mount Glorious, a noroeste de Brisbane, foram 1.637 milímetros de chuva no mesmo período.

Em 2011, outro evento extremo semelhante havia ocorrido na região. Fenômenos que ocorriam uma vez a cada século agora se repetiram com a distância de uma década. Segundo o Financial Times, as inundações devastadoras geraram uma enxurrada de acionamento de seguros. As duas principais seguradoras australianas já anunciaram que excederão o orçamento anual para riscos naturais em centenas de milhares de dólares só com este evento. Aumenta, assim, a pressão para que o primeiro-ministro Scott Morrison mude sua postura negacionista frente à crise climática.

Em tempo: Estudo publicado na PNAS revela que a fumaça dos incêndios florestais australianos de 2019-2020, período que ficou conhecido como verão negro, destruiu 1% da camada de ozônio. Essa quantidade geralmente leva uma década para se recuperar. O estudo sugere ainda que, com a ampliação do número de incêndios florestais provocados pelas mudanças climáticas, essa recuperação poderá ser ainda mais lenta. O Guardian repercutiu o assunto.

 

ClimaInfo, 4 de março de 2022.

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