Em meio à pressão por mineração em terras indígenas, Bolsonaro lança plano para fertilizantes 

Bolsonaro mineração Terras Indígenas

O governo de Jair Bolsonaro segue em sua ofensiva midiática para pressionar o Congresso Nacional a aprovar o projeto de lei (PL) 191/20, que libera a mineração em Terras indígenas. Na última 6ª feira (11/3), durante o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, o presidente voltou à carga, argumentando que a proposta pode ajudar o Brasil a se tornar autossuficiente na produção de potássio para fertilizantes – à despeito das maiores reservas desse minério no Brasil estarem fora das áreas demarcadas aos Povos Indígenas. Em um show de arrogância, Bolsonaro disse que as comunidades indígenas apoiam a exploração mineral em suas terras e que “eles praticamente já são como nós”.  ((o)) eco e Metrópoles repercutiram a fala presidencial.

Por falar em fertilizantes, Mariana Grilli conversou com ambientalistas no Globo Rural sobre o plano apresentado pelo governo e o oportunismo do Planalto de usar a crise entre Rússia e Ucrânia para empurrar a legalização da mineração em Terras Indígenas. Em si, o plano não traz nenhuma novidade, sendo apenas uma atualização de um documento similar lançado pelo governo em 2010. Além disso, ele não oferece soluções de curto prazo para a possível escassez de potássio nos próximos meses.

Na Folha, Ana Carolina Amaral trouxe dados de um estudo recente da UGMG que mostram que a maior parte das reservas potenciais de potássio no Brasil está localizada fora das áreas indígenas na Amazônia.

Enquanto isso, o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos alertou a Câmara dos Deputados sobre os impactos de uma eventual aprovação do PL da Mineração sobre o meio ambiente no Brasil. O documento, obtido por Jamil Chade no UOL, aponta para dano “irrecuperável” e “sem precedentes” ao país caso a proposta seja aprovada pelos parlamentares, o que também contrariaria compromissos internacionais do Brasil. “Se adotada, a norma poderia aprofundar os problemas estruturais e históricos que os Povos Indígenas enfrentam no Brasil, com resultados danosos sem precedentes”.

Em tempo: Enquanto Bolsonaro usa a alegada falta de fertilizantes causada pela guerra na Ucrânia para tentar aprovar mineração em Terras Indígenas, uma nuvem de nutrientes atravessa o Atlântico para adubar a floresta Amazônica. Vinda do Saara, a nuvem de poeira, identificada pela primeira vez em 1990 pelo físico e climatologista brasileiro Paulo Artaxo e colegas, foi registrada novamente no penúltimo domingo (6/3) pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA). A nuvem vem carregada de microorganismos e fósforo – nutrientes essenciais para o crescimento das plantas. O Estadão e o UOL trazem os detalhes dessa mãozinha intercontinental que a mãe natureza dá à maior floresta tropical do mundo. A progressão diária da nuvem pode ser acompanhada aqui.

 

ClimaInfo, 14 de março de 2022.

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