Desmatamento avança em área com indígenas isolados na Amazônia

Uma das regiões mais preservadas da Amazônia Brasileira, o Médio Rio Purus, no sul do Amazonas, pode perder uma área superior à do estado do Acre de floresta nas próximas três décadas. O novo relatório da campanha #IsoladosOuDizimados, lançado nesta 2a feira (14/3) por entidades ambientalistas e indígenas, indica que o descontrole sobre a devastação ambiental pode resultar na perda de cerca de 170 mil km2 de floresta nativa até 2050 nessa região, número quatro vezes superior à média observada entre 2012 e 2016. Esse avanço do desmatamento coloca em risco não apenas a floresta em si, mas também as Comunidades Indígenas Tradicionais e Isoladas que vivem nesse entorno.

“A baixa governança e a perspectiva da pavimentação da BR-319 representam um alto potencial para o estímulo do desmatamento na região, uma vez que propiciará acesso a vastas áreas de floresta hoje preservadas”, explicou Antonio Oviedo, do Instituto Socioambiental. “A abertura de novas fronteiras de desmatamento pode representar taxas de 9,4 mil km2 por ano até 2050 na região, taxa similar à verificada no ano de 2019 para toda a Amazônia Legal, de 10.129 km2”.

O avanço do desmatamento atinge em cheio diversas áreas protegidas no sul do Amazonas, como as Reservas Extrativistas (RESEX) do Médio Purus e Ituxi, a Floresta Nacional (FLONA) do Iquiri, e a Terra Indígena (TI) Jacareúba-Katawaxi. No caso da reserva indígena, desde dezembro ela não conta com restrição legal que impede a entrada de invasores – a despeito de a própria FUNAI ter confirmado recentemente a presença de novos grupos de índios isolados na região. “É preocupante e revoltante a morosidade do setor de índios isolados e de recente contato da FUNAI de Brasília em não tomar nenhuma providência concreta há mais de 5 meses após a confirmação oficial”, disse Zé Bajaga Apurinã, coordenador da ​​Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP), em nota divulgada pela COIAB.

Lais Modelli deu mais detalhes sobre o relatório no Mongabay.

Em tempo: Enquanto o mundo cobra mais responsabilidade do Brasil na proteção da Amazônia, as Assembleias Legislativas dos estados amazônicos ignoram completamente a pauta ambiental em seus debates políticos. No Valor, Daniela Chiaretti contou sobre pesquisas preliminares feitas pelo Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal (LEGAL), formado por cientistas políticos de universidades públicas dos nove estados da região, que começam a esclarecer as razões pelas quais meio ambiente não aparece na prioridade dos grupos políticos da própria Amazônia. Uma das hipótese iniciais do grupo é que a expansão do agronegócio no Norte nas últimas décadas reforçou uma visão predatória sobre a floresta, vista como obstáculo para o desenvolvimento econômico da região.

 

ClimaInfo, 16 de março de 2022.

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