A disrupção do fornecimento de petróleo e gás russo aos países europeus, precipitada pelos efeitos da invasão de Moscou à Ucrânia, fez com que o continente se voltasse a um velho conhecido para garantir a geração de energia elétrica no curto prazo – o carvão. Os governos de diversos países da União Europeia, Alemanha à frente, pisaram no freio com seus planos de abandono do carvão e abriram margem para continuar queimando esse combustível no curto prazo, o que certamente causará um prejuízo tremendo aos compromissos climáticos da UE nesta década.
No Euractiv, Aneta Zachova fez um panorama do recuo europeu com o carvão. A República Tcheca, por exemplo, já anunciou que pretende ampliar o consumo de carvão para substituir o gás importado da Rússia. Já a Bulgária abandonou planos para construção de uma usina termelétrica a gás e está adaptando-os para a geração a partir da queima de carvão. A Alemanha, que anunciou recentemente planos para antecipar o fim do carvão na geração elétrica para esta década, confirmou que pretende criar reservas estratégicas de carvão para garantir o abastecimento no curto prazo.
Não coincidentemente, o preço do carvão dobrou no mercado europeu: de acordo com o Quartz, a tonelada métrica passou de US$ 186 em 23 de fevereiro para US$ 420 em 10 de março, com base em números da consultoria Rystad Energy. Os contratos futuros do carvão na Austrália, grande produtor mundial, já operam com valores na casa dos US$ 440 por tonelada.
Já a Bloomberg destacou o crescimento da demanda por carvão na China, principal consumidor mundial do produto. No final do ano passado, o país passou por problemas no fornecimento de energia, o que forçou um redirecionamento da política energética chinesa; com isso, Pequim aprovou novos projetos de mineração e a construção de novas usinas termelétricas, na contramão de suas próprias promessas de descarbonização.
Mas tudo isso terá um custo climático. Uma análise do Global Energy Monitor (GEM) destacou que as emissões globais de metano decorrentes da extração de carvão podem aumentar em até 21,6% se todos os novos projetos de mineração em desenvolvimento entrarem em operação. Isso significa a liberação de mais 11,3 milhões de toneladas de metano por ano. Hoje, a exploração de carvão já libera mais metano do que a produção de petróleo ou gás natural: de acordo com o GEM, as minas de carvão em operação atualmente emitem 51,3 milhões de toneladas de metano por ano, bem acima das 39 milhões de toneladas emitidas pela extração de petróleo e as 45 milhões de toneladas liberadas pela produção de gás. A Reuters deu mais detalhes.
ClimaInfo, 16 de março de 2022.
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