Enquanto Bolsonaro se auto-homenageia, governo pressiona exploração de Terras Indígenas

Bolsonaro indigenista

Com pompa e circunstância, e sem a menor vergonha na cara, Jair Bolsonaro recebeu nesta 6ª feira (18/3) a Medalha do Mérito Indigenista em cerimônia no ministério da justiça, em Brasília. Trajando um cocar, item tido como azarado entre políticos durante campanhas eleitorais, o presidente repetiu sua cantilena em defesa da exploração das Terras Indígenas. “Nós os queremos ao nosso lado, que vocês façam em suas terras exatamente o que fazemos nas nossas”, afirmou Bolsonaro.

A premiação de Bolsonaro e de outros políticos do atual governo levantou diversas polêmicas na semana passada. Representantes indígenas, atacados sistematicamente pelo governo e seus aliados nos últimos três anos, viram a notícia como um escárnio, o cúmulo do desrespeito do presidente aos direitos tradicionais dos Povos Indígenas. O sertanista Sydney Possuelo, ex-presidente da FUNAI e uma das maiores autoridades do país sobre Povos Isolados na Amazônia, também esteve no ministério da justiça para devolver a comenda recebida por ele há 35 anos por discordar frontalmente da concessão dela a Bolsonaro.

“Entendo, senhor ministro [Anderson Torres, da justiça], que a concessão do Mérito Indigenista ao senhor Jair Bolsonaro é uma flagrante, descomunal, ostensiva contradição em relação a tudo que vivi e a todas as convicções cultivadas por homens da estatura dos irmãos [Orlando, Cláudio e Leonardo] Villas-Bôas”, escreveu Possuelo em carta ao ministério, devolvida junto com a comenda concedida ao sertanista em 1987. “Tenho a medalha há 35 anos com orgulho e, de repente, vejo que ela está desmanchando”. Amazônia Real, Correio Braziliense e Poder360 repercutiram a ação.

Enquanto isso, Vinícius Sassine informou na Folha da conclusão de uma análise da FUNAI sobre o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, sob comando do ex-general bolsonarista Augusto Heleno, ter dado aval a projetos de mineração em Terras Indígenas, contrariando o que a legislação atual determina. A autorização acabou sendo cassada pelo próprio GSI depois de a imprensa revelar essa informação. No entanto, uma eventual mudança na legislação, como a proposta pelo projeto de lei (PL) 191/2020, em tramitação hoje na Câmara dos Deputados, poderá legalizar esse tipo de ação.

A premiação a Bolsonaro teve ampla repercussão na imprensa, com destaques em veículos como Carta Capital, Congresso em Foco, Estadão, Folha, g1, Metrópoles, O Globo, Poder360 e Veja, além do Guardian no exterior.

 

ClimaInfo, 21 de março de 2022.

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