Paulo Saldiva: seres humanos não são diferentes de outras espécies ameaçadas pela mudança do clima

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Nathan Howard/AFP.

Ainda é difícil para muitas pessoas enxergarem a mudança do clima como uma ameaça existencial à sobrevivência da humanidade. Para elas, o perigo está distante demais em termos geográficos e temporais para se preocupar com isso. O problema é que, na prática, a ameaça está se tornando cada vez mais próxima e latente – e não estamos falando apenas em eventos climáticos extremos, como fortes tempestades e secas prolongadas: doenças das mais diversas também estão sendo afetadas pelas alterações do clima global, o que expõe a saúde de bilhões de pessoas ao redor do mundo a riscos cada vez mais altos.

O alerta é do professor de medicina da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Saldiva, que colaborou recentemente com um estudo sobre os impactos da mudança do clima sobre a saúde nas Américas, lançado na semana passada pela Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS). “Todas as doenças transmitidas por vetores, dengue, chikungunya, estão aumentando porque chove muito, tem ondas de calor, a eclosão dos ovos fica mais eficiente e vetores que só existiam em regiões tropicais e subtropicais começam a atingir as regiões temperadas”, explicou Saldiva ao site ((o)) eco.

“A principal mensagem do estudo é que o custo de abater as emissões é muito menor do que se elas forem mantidas nos níveis que estão. Na verdade, o corte de poluentes traz lucros. Não existe nenhuma justificativa moral [para manter emissões nos patamares atuais] porque você está induzindo o sofrimento dos segmentos mais pobres da população, e ao menos tempo está perdendo dinheiro”, disse Saldiva. “No fundo, o que estamos propondo é que não somos diferentes das espécies que já são ameaçadas pelas mudanças climáticas”.

Em tempo: Morreu na última 4ª feira (16/3) o explorador, piloto, escritor e ambientalista Gérard Moss, em virtude de complicações causadas pelo Mal de Parkinson. Moss participou de diversos projetos científicos no Brasil, se destacando no estudo sobre os “rios voadores” da Amazônia, junto com pesquisadores como José Marengo e Antônio Nobre. Correio Braziliense e ((o)) eco deram mais detalhes. O ClimaInfo se solidariza com os familiares e amigos de Moss.

 

ClimaInfo, 22 de março de 2022.

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