Geopolítica energética: Putin ameaça “países hostis” com restrições no fornecimento de gás

Guerra Ucrânia gás rublos
Mikhail Klimentyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Com os países ocidentais fechando o cerco à economia russa, o presidente Vladimir Putin ameaçou nesta 4ª feira (23/3) impor restrições aos pagamentos de países tidos como “hostis” aos interesses de Moscou pelo petróleo e gás importados da Rússia. Putin ordenou ao Banco Central russo o desenvolvimento de um mecanismo para forçar os compradores de combustíveis fósseis a pagar em rublos ao invés de euros e dólares. Segundo o líder russo, isso se deve à “quebra de confiança” do mercado russo com as moedas estrangeiras.

De acordo com o Valor, analistas entendem que a proposta de Putin é mais simbólica do que prática, já que as transações com a moeda russa foram bastante prejudicadas pelas sanções internacionais a Moscou. Além disso, os pagamentos estrangeiros com dólar e euro tornaram-se a única via de entrada dessas divisas no mercado cambial russo, e um fechamento desse canal poderia comprometer também a demanda interna por rublos. Uma ideia é de que nova exigência seja uma saída encontrada pelo governo russo para deixar de vender petróleo e gás sem romper efetivamente seus contratos. Associated Press, Bloomberg, NY Times, Reuters e Wall Street Journal repercutiram a notícia.

Enquanto Moscou ameaça interromper o fornecimento de gás, os países da União Europeia seguem batendo cabeça para responder à agressão russa na Ucrânia sem piorar ainda mais a crise energética. A Bloomberg tratou da movimentação da UE para acompanhar os Estados Unidos e o Reino Unido em mais uma rodada de sanções contra Moscou, mas sem considerar um possível embargo da compra de combustíveis fósseis russos. Assim, as novas medidas devem se limitar àquilo que já foi feito, como congelamento de ativos e proibição de viagem contra indivíduos e entidades russas, mas com um escopo maior.

O Valor destacou a oposição do governo da Alemanha à ideia de embargo contra importações de petróleo e gás da Rússia, ao menos de forma imediata. “Fazer isso de um dia para o outro significaria mergulhar nosso país e toda a Europa em uma recessão. Centenas de milhares de empregos estariam em risco. Setores inteiros da indústria ficariam ameaçados”, afirmou o chanceler Olaf Scholz. “As sanções não devem atingir mais os países europeus do que a liderança russa”.

Já o NY Times explicou como os europeus chegaram a essa situação de dependência crítica do petróleo e gás russos. Tudo começou há cerca de 40 anos, quando os países europeus e grandes players da indústria fóssil abraçaram a proposta de um gasoduto entre a Sibéria e a Alemanha com a esperança de obter gás mais barato e, ao mesmo tempo, distensionar as relações entre Leste e Oeste no contexto da Guerra Fria.

Em tempo: O economista russo Anatoly Chubais renunciou ao posto de enviado especial do Kremlin para mudança do clima em protesto contra a invasão russa à Ucrânia. Chubais foi assessor especial do ex-presidente Boris Yeltsin nos anos 1990, quando atuou no processo de privatização de antigas estatais soviéticas, e um dos principais aliados de Vladimir Putin desde a chegada dele ao poder, em 1999. Por ora, ele é a principal baixa na equipe de Putin desde o começo da guerra. A notícia teve repercussão em veículos como Bloomberg, Financial Times, NY Times e Reuters, entre outros.

 

ClimaInfo, 24 de março de 2022.

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