“Novo normal”: INMET faz panorama das mudanças nos padrões de chuva e temperatura no Brasil

INMET clima Brasil 30 anos
Diego Vara / Reuters

Mais calor e mais chuvas fortes. Eis um balanço geral das mudanças observadas no clima do Brasil nas últimas três décadas, apresentado pelo INMET ontem (23/3) no documento “Normais Climatológicas do Brasil 1991-2020”. De acordo com o Instituto, a elevação da temperatura média e a intensificação das chuvas de grande porte podem estar relacionadas aos efeitos da mudança do clima, em linha com as conclusões recentes do IPCC. “A intervenção humana é uma das causas mais prováveis de comportamento das variáveis meteorológicas e, consequentemente, das mudanças climáticas observadas”, afirmou o INMET em nota.

Como a MetSul explicou, as normais climatológicas (médias históricas) são valores médios de variáveis meteorológicas calculadas para um período relativamente longo e uniforme, que incluem médias de temperatura mínima e máxima, umidade, insolação, vento, precipitação, extremos de temperatura e chuva, entre outros. Esses números servem de referência para a definição do clima em uma determinada região ou localidade.

A Folha destacou alguns dados do levantamento. Por exemplo, em São Paulo, os números apresentaram um aumento consistente e persistente de temperaturas mínimas e máximas nas últimas três décadas na comparação com outros períodos similares no passado, com altas de 1,2°C a 1,6°C nos períodos mais frios do dia (em geral, as madrugadas). Da mesma forma, a frequência de tempestades com volume de precipitação acima dos 50 mm também aumentou, com destaque para os dados da última década: entre 2011 e 2020, o número de dias com chuvas acima dos 50 mm diminuiu, mas os registros de tempestades acima de 80 e 100 mm aumentaram.

O Globo abordou análises do Cemaden que apontam para uma tendência de redução do volume de chuva que vai sobre o solo brasileiro. Dados dos últimos 60 anos mostram uma diminuição no volume total de chuvas ao longo do ano, bem como na duração dos períodos chuvosos. De acordo com Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de operações e modelagem do Cemaden, as chuvas estão ficando mais escassas e concentradas. “Essa tendência não vai se reverter, pode até se estabilizar, mas não há uma tendência de voltarmos a ter chuvas iguais a décadas atrás. Na média geral, o Brasil tem de estar cada vez mais preparado para os extremos de chuva, porque é isso que nos espera daqui pra frente”, disse.

Os reflexos dessas mudanças nos padrões de chuvas já são latentes em dois setores econômicos que dependem da água que cai do céu para operar – o agronegócio e a geração de energia elétrica. O prejuízo acumulado por produtores de soja e milho no Rio Grande do Sul, atingidos por uma forte seca nos últimos meses, supera os R$ 36 bilhões; outros estados, como Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul também acumulam perdas acima dos R$ 25 bi por causa da estiagem. Já o setor elétrico ainda vive os efeitos da estiagem que atingiu boa parte dos reservatórios hidrelétricos no 2º semestre de 2021, e que forçou medidas emergenciais por parte do governo federal para manter a geração elétrica e diminuir a demanda.

 

ClimaInfo, 24 de março de 2022.

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