Países ampliam subsídios para controlar preços da energia

subsídios combustíveis fósseis
Rivaldo Gomes - 10/03/22 - Folhapress

A discussão sobre novos subsídios aos combustíveis não se limita apenas ao Brasil. Em todo o mundo, governos estão recorrendo a esse tipo de ação para minimizar e/ou neutralizar a alta internacional do petróleo nos mercados domésticos e conter seus efeitos sobre a inflação, que ameaça a retomada econômica pós-pandemia. Na Folha, Idiana Tomazelli destacou dados da OCDE que mostram que ao menos 29 países recorreram a cortes temporários de tributos e repasse direto de recursos a famílias de baixa renda para reduzir a pressão da carestia dos combustíveis e da energia elétrica.

Os efeitos deste tipo de ação, no entanto, não garantem energia mais barata. Isso é particularmente mais desafiador quando o assunto é petróleo, especialmente no caso brasileiro – já que o país importa a maior parte do combustível refinado que consome. Além do preço do barril, o governo precisaria considerar também a cotação do dólar; mas, mesmo assim, não haveria qualquer garantia de que subsídios adicionais ao petróleo resultassem em combustível mais barato para os consumidores brasileiros.

O aumento do preço da energia beneficiou também o setor do carvão, que acumulava quase uma década de perdas e que muitos viam como “superado” antes da pandemia. Com a oferta em xeque e a demanda crescente, os preços do combustível aumentaram no último ano, impulsionando a exploração carvoeira. Isso vai na contramão total com os compromissos climáticos internacionais dos países sob o Acordo de Paris e a promessa de redução do consumo de carvão ao longo desta década. O Financial Times fez um balanço do custo climático do boom carvoeiro, cuja tradução foi publicada pelo Valor.

Ainda sobre energia, a Associated Press fez uma análise sobre os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia nas pretensões da União Europeia para ampliar o uso de fontes renováveis de energia. No longo prazo, a crise até pode impulsionar novos investimentos em energia limpa, mas os efeitos de curto prazo são preocupantes: para reduzir a dependência do gás russo, os europeus estão recorrendo ao carvão, voltando algumas casas no tabuleiro da transição energética em um momento-chave para os esforços globais contra a crise climática.

Outro efeito do conflito na Ucrânia pode estar na maneira como os consumidores, especialmente nos países europeus, enxergam a energia. Como explicam Stephen Stapczynski e Shoko Oda na Bloomberg, o que antes muitos tomavam como algo garantido tornou-se um bem escasso que não pode ser desperdiçado. Nesse sentido, um novo impulso para a eficiência energética pode acontecer nesses mercados, de maneira a garantir a segurança energética e o abastecimento essencial dos consumidores.

Em tempo: A geração renovável de energia tem se expandido significativamente nos últimos anos, beneficiada pelo aumento da demanda e o barateamento da tecnologia. O problema é que isso ainda se concentra nas populações mais abastadas, mesmo em países desenvolvidos. Os mais pobres, que pagam mais pela energia e que seriam os principais beneficiados pela alternativa renovável, seguem no final da fila da transição energética. A Bloomberg destacou como essa desigualdade está emperrando a adoção das fontes renováveis nos países em desenvolvimento.

 

ClimaInfo, 29 de março de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.