O aumento nos preços internacionais de energia impulsionou o governo do México a promover uma reforma no setor elétrico do país, com um polêmico projeto de construção de novas plantas de processamento de gás natural fóssil liquefeito (GNL) para exportação a mercados europeus e asiáticos. Hoje, o México é um importador de gás, mas se beneficia com a oferta de combustível vindo dos EUA. A ideia do governo de Andrés López Obrador é exatamente aproveitar o gás norte-americano para produção de GNL no México. É exatamente aí que reside uma parte importante das desavenças entre mexicanos e norte-americanos em torno do projeto.
Na semana passada, o enviado especial da Casa Branca para o clima, John Kerry, conversou com Obrador na Cidade do México. Para os EUA, a proposta mexicana representa uma ameaça à competitividade do setor energético norte-americano, ao mesmo tempo em que prejudica esforços de descarbonização e transição energética na América do Norte.
Um dos pontos problemáticos está no papel que a Pemex, estatal mexicana de petróleo e gás, teria nesse novo modelo: a empresa seria a principal beneficiária das mudanças em detrimento de suas concorrentes no mercado energético nos países da USMCA – o pacto de livre comércio entre EUA, Canadá e México que substituiu o antigo NAFTA em 2018. Isso afetaria diretamente as empresas de energia do oeste dos EUA, uma das áreas que mais avançaram na geração por fonte renovável no país na última década.
“Estamos em um momento crucial. Devemos acelerar a luta contra a crise climática e, para isso, devemos trabalhar juntos para aproveitar a oportunidade econômica apresentada pelo desenvolvimento de energia limpa”, afirmou Kerry depois da audiência com o presidente mexicano. Obrador, por sua vez, tentou minimizar as desavenças e defendeu a proposta de reforma do setor elétrico no México, por esta também abrir oportunidades de investimento e negócios para empresas norte-americanas.
Associated Press e Reuters repercutiram a notícia e detalharam os pontos de tensão entre EUA e México na pauta energética.
Em tempo: Um grupo de ativistas no Reino Unido realizou diversas ações de protesto desde 6ª feira (1º/4), com bloqueios em terminais de petróleo perto de Londres, Birmingham e Southampton. Mais de 100 pessoas foram detidas pelas autoridades enquanto impediam a passagem de caminhões com combustível para distribuição no mercado britânico. O Just Stop Oil, responsável pelas ações, protestou contra o uso de combustíveis fósseis e seu impacto sobre o clima global, além das medidas recentes de flexibilização da produção de energia fóssil no Reino Unido, tomadas na esteira do aumento do preço do petróleo e da guerra entre Rússia e Ucrânia. BBC, Guardian e Reuters deram a notícia.
ClimaInfo, 4 de abril de 2022.
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