IPCC: o tempo das promessas ficou para trás – precisamos de ação imediata

IPCC impactos
Fernando Frazão/Agência Brasil

Os cientistas alertam há algum tempo, mas o novo relatório do IPCC eliminou qualquer margem de dúvida: se quisermos efetivamente evitar o pior da mudança do clima e conter o aquecimento do planeta em, no máximo, 1,5°C neste século, precisamos reduzir nossas emissões de gases de efeito estufa imediatamente. A hora das promessas ficou para trás: precisamos de ação contra a crise climática.

“A menos que existam reduções imediatas e urgentes em todos os setores, 1,5°C está fora de alcance”, alertou Jim Skea, do Imperial College de Londres, citado por Daniela Chiaretti no Valor. Segundo o IPCC, para manter viva a meta de 1,5°C, tal como definido pelo Acordo de Paris, o pico histórico das emissões precisa acontecer até 2025 e elas precisam ser cortadas em 43% até o final desta década, em relação aos níveis de 2019. Qualquer atraso inviabilizará as possibilidades da humanidade escapar de mudanças desastrosas no clima.

“Hoje, o business-as-usual se tornou perigoso”, afirmou Mercedes Bustamante (UnB), uma das pesquisadoras envolvidas na redação do novo relatório do IPCC, ao Estadão. “Passar de um aumento de 1,5°C ainda que temporariamente (como mostra um dos cenários do relatório) vai aumentar muito esse impacto, com a perda de eficiência desses ‘drenos naturais’ de carbono que são os ecossistemas”. Bustamante ressaltou também a mensagem principal do IPCC: ainda dá tempo de evitar o pior, mas a resposta precisa acontecer agora.

Mais do que promessas, os países também precisam avançar com planos de ação bem estruturados, com indicações evidentes sobre o tipo de resposta e o cronograma de implementação. Para Roberto Schaeffer (UFRJ), outro colaborador do relatório do IPCC, as metas dos países sob o Acordo de Paris são tigres de papel se não estiverem acompanhadas por esse detalhamento. “Não significa nada dizer que em 2050 vai diminuir tanto. Eu quero saber como você vai chegar lá. Isso que ninguém está falando”, disse Schaeffer à Agência Pública. “É preciso propor metas de longo prazo, dizendo qual o caminho para chegar lá. Quero que a NDC fale de 2030, mas fale como vai ser em 2028, 2029, 2027”.

Não à toa, o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, deu um senhor puxão-de-orelha nos países depois da divulgação do relatório do IPCC. “Esse relatório é uma ladainha de promessas climáticas quebradas. Alguns líderes governamentais e empresariais estão dizendo uma coisa, mas fazendo outra. Simplificando, eles estão mentindo”, disse Guterres com sua franqueza característica. “Governos e corporações de alta emissão não estão apenas fechando os olhos; eles estão adicionando combustível às chamas”. Folha e Valor destacaram a fala irritada do chefe da ONU.

Em tempo: Vale a pena conferir a síntese dos “recados” do IPCC feita pelo Observatório do Clima. Tem bronca para todos os lados, mas também indicação de caminhos potenciais para que o mundo intensifique a transição para o carbono zero e viabilize cortes substanciais em suas emissões já nesta década.

 

ClimaInfo, 6 de abril de 2022.

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