Aquecimento a 2°C: copo meio cheio ou meio vazio?

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VCG/Getty Images

Na semana passada, um estudo publicado na revista Nature mostrou que o cumprimento dos objetivos nacionais de mitigação climática, da forma como foram apresentados pelos países na última Conferência da ONU sobre o Clima (COP 26), no ano passado, permitiria à humanidade a contenção do aquecimento global neste século abaixo dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais. A notícia foi bem recebida, especialmente depois da cacetada que o IPCC jogou na cabeça da comunidade internacional no começo do mês. O problema é que um eventual cumprimento da meta de 2°C, ainda que importante, continuaria implicando em mudanças climáticas com impactos negativos, especialmente nas áreas mais pobres e vulneráveis do mundo.

No Guardian, a ex-secretária-executiva da UNFCCC e uma das arquitetas do Acordo de Paris, Christiana Figueres, refletiu sobre a impressão agridoce deixada por esse estudo. O argumento que ela coloca é pertinente: sim, podemos celebrar esse resultado potencial, mas não podemos sentar em cima dele e esperar que ele aconteça automaticamente. Entre a promessa e a ação, persiste uma grande lacuna de incertezas, inclusive sobre a suficiência da promessa para garantir um clima mais ameno.

“A complexidade da crise climática e suas soluções significam que precisamos nos acostumar a manter reações emocionais complexas e buscar soluções complexas. O caminho à frente será cheio de indignação e otimismo”, observou Figueres. “Podemos usar ambos para impulsionar as políticas que sabemos que precisamos: políticas que permitirão que todos os compromissos e promessas de redução de emissões sejam cumpridos não apenas no prazo, mas antes do previsto”.

Em tempo: Na BBC, Matt McGrath destacou o desconforto de cientistas climáticos com um dos pontos abordados pela imprensa internacional na repercussão do relatório recente do IPCC sobre mitigação climática. Esse ponto dizia que as emissões de gases de efeito estufa devem atingir seu pico “no máximo antes de 2025”, o que implicaria que o carbono poderia aumentar por mais três anos antes de iniciar uma trajetória de redução. Para os cientistas, essa interpretação está equivocada, em parte por problemas na própria redação deste trecho. De acordo com esses especialistas, as reduções precisam acontecer o quanto antes, sem deixar margem para novos aumentos até 2025. “Definitivamente, não temos o luxo de deixar as emissões crescerem por mais três anos”, observou Kaisa Kosonen, do Greenpeace.

 

ClimaInfo, 20 de abril de 2022.

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