Twitter será o teste de fogo do compromisso climático de Elon Musk

Elon Musk twitter
Reuters/Getty/Twitter

O empresário de origem sul-africana Elon Musk é daquelas personalidades típicas do Vale do Silício, área nos Estados Unidos célebre como berço da indústria de alta tecnologia. Sua riqueza, herdada da família, se multiplicou no desenvolvimento de softwares, chegando ao status de milionário depois de vender o sistema de pagamentos PayPal para o eBay, em 2002.

Musk seguiu se aventurando no limite da fronteira high-tech, fundando a Tesla, hoje principal montadora de carros elétricos do mundo, e a SpaceX, empresa de tecnologia aeroespacial. A trajetória de sucessos se complementou com um estilo audacioso, beirando a irresponsabilidade, também característico entre os grandes nomes do Vale do Silício.

Hoje, Musk é um dos homens mais ricos do planeta e, desde a última 2ª feira (25/4), é quase-proprietário também de uma das maiores redes sociais do mundo, o Twitter. A bem da verdade, a compra ainda precisa ser referendada pelos acionistas da empresa, mas a oferta de mais de US$ 46 bilhões dificilmente será rejeitada. A venda do Twitter para Musk levantou uma série de polêmicas por conta do discurso adotado pelo empresário para justificar a compra – a defesa da “liberdade absoluta de expressão”.

Nos últimos anos, o Twitter vinha avançando em medidas de restrição da circulação de informações falsas e mensagens de ódio em sua plataforma. Mais recentemente, a empresa anunciou uma nova política de veto de conteúdos que rejeitam a ciência climática em seus mecanismos pagos de promoção publicitária. Nem de longe isso é suficiente para conter o negacionismo climático, mas era um avanço substancial em comparação com o que se tinha até pouco tempo atrás.

A dúvida que fica é: será que Elon Musk, que vira-e-mexe se coloca como a grande liderança capitalista em defesa da ação contra a mudança do clima, vai manter essas restrições no Twitter, indo contra seu professado desejo de manter uma “liberdade absoluta de expressão” na rede social? Vale a pena ler algumas reflexões sobre essa questão publicadas nos últimos dias, especialmente as de Andrew Freeman na Axios, Louise Boyle no Independent e Kristopher Tigue no Inside Climate News.

Em suma, o Twitter será o teste de fogo para Musk no que diz respeito à questão climática: ou ele se consolida como a liderança que pretende ser no tema ou vira mais um empresário hipócrita que ganhou dinheiro com discurso verde às custas do sofrimento de bilhões de pessoas que serão impactadas nas próximas décadas pela crise climática. O que estará em seu epitáfio, Mr. Musk?

 

ClimaInfo, 28 de abril de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.