As táticas de comunicação e lobby da indústria fóssil

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Arte: Getty Images

Em 1971, um comercial atribuindo a culpa pela poluição plástica aos consumidores foi pago pela Keep America Beautiful, grupo fundado na década de 1950 por empresas líderes no setor de embalagens, como a American Can Company e a Owens-Illinois Glass Company, entre outros. A campanha incluiu ainda lobby contra as leis de garrafas e a legislação que exigiria que as embalagens fossem retornáveis ou recicláveis em vez de descartáveis.

Décadas depois, a mesma estratégia está sendo usada pela indústria de combustíveis fósseis. O conceito de “pegada de carbono”, por exemplo, foi cunhado pela primeira vez em um anúncio de TV da BP em 2005. Nele, a empresa explicava tratar-se da “quantidade de dióxido de carbono emitida devido às suas atividades diárias – desde lavar uma carga de roupa até dirigir um carro cheio de crianças para a escola”. No entanto, segundo relatório do CDP, 70% das emissões de gases de efeito estufa nas últimas duas décadas podem ser atribuídas a 100 produtores de combustíveis fósseis.

Essa “virada de mesa”, com a qual o setor corporativo joga a culpa da crise climática nos ombros dos consumidores, é objeto de uma densa matéria da BBC, que mostra como isso influenciou boa parte do debate público sobre o tema nas últimas décadas. Vale a leitura.

Já o Guardian nos traz um episódio recente envolvendo lobby. A bola da vez é a Global Warming Policy Foundation (GWPF), que liderou a reação contra a política de zero líquido do governo dos EUA. Documentos fiscais apresentados às autoridades norte-americanas e obtidos pela OpenDemocracy mostram que um de seus doadores tem US$ 30 milhões em ações em 22 empresas que trabalham com carvão, petróleo e gás. A matéria também relata que, entre 2016 e 2020, o braço norte-americano da organização, o American Friends of the GWPF, recebeu US$ 620.259 do Donors Trust, que é financiado pelos irmãos Koch, herdeiros de um império petrolífero e financiadores, com centenas de milhões de dólares, dos negacionistas.

Enquanto isso, no estado do Novo México – o estado de aquecimento mais rápido e com maior escassez de água nos EUA – a indústria de petróleo e gás está tentando se posicionar como a santa padroeira da educação. Em um vídeo exemplar dessa estratégia, Ashley Niman, professora da quarta série da escola primária de Enchanted Hills, diz aos espectadores que a indústria é o que permite que ela faça seu trabalho. “Sem petróleo e gás, não teríamos recursos para oferecer uma educação exemplar para nossos alunos”, diz ela. “A parceria que temos com a indústria de óleo e gás me torna uma professora melhor.” O Guardian trouxe todos os detalhes desta história.

 

ClimaInfo, 6 de maio de 2022.

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