Desmatamento da Amazônia bate recorde histórico em abril

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Christian Braga / Greenpeace

A explosão do desmatamento na Amazônia virou uma triste e lamentável rotina sob o atual governo federal. No entanto, pouca coisa se compara com o que foi visto em abril passado: de acordo com o sistema DETER/INPE a floresta perdeu 1.012 km2 de vegetação, um aumento de 74% em relação ao mesmo mês em 2021. Na comparação com a média histórica, o número registrado em abril foi 165% superior. Esta é a primeira vez que os alertas de desmatamento em abril, um mês ainda chuvoso na maior parte da Amazônia, superam a marca dos 1.000 km2.

As perspectivas para os próximos meses são muito ruins. Se o desmatamento esteve tão descontrolado durante a época chuvosa, historicamente caracterizada por números de desmate mais baixos, a possibilidade de que essa taxa aumente com a chegada da temporada seca é muito grande. Desde agosto de 2021, início da contagem do atual período, o DETER acumula alertas de desmatamento para uma área de 5.070 km2, 5% a mais do que o registrado nessa mesma altura no ano passado e o 2º maior da série histórica, atrás apenas de 2020.

Como lembrou o Observatório do Clima, a Amazônia tem convivido com recordes seguidos de destruição no último ano: desde agosto passado, os alertas bateram recorde em outubro, janeiro, fevereiro e, agora, abril. Desmatamento mensal acima dos 1.000 km2 era fato raro até o começo de 2019; com o atual governo, eles deixaram de ser uma aberração e foram “normalizados”, sob o incentivo de autoridades mais interessadas em favorecer interesses escusos do que em proteger a floresta e quem vive nela. “As causas desse recorde têm nome e sobrenome”, disse Marcio Astrini, do OC, citando o atual presidente da República. “O ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja”.

Na mesma linha, André Freitas, do Greenpeace Brasil, observou que a fragilidade da política e dos órgãos governamentais ambientais faz parte de um “projeto perverso” em favor dos criminosos que destroem e derrubam a floresta. “Com a certeza da impunidade, o que já está ruim tende a piorar caso projetos de lei que visam legalizar a grilagem de terras, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir Terras Indígenas para mineração sejam aprovados na Câmara e no Senado”, disse.

A alta do desmatamento na Amazônia também é um alerta para o que pode vir aí caso o atual presidente seja reeleito em outubro. “Temos três anos de impunidade, com redução das ações de controle, fiscalização e autuação, agravados em 2021 por um discurso ainda mais permissivo por causa da temporada eleitoral”, destacou Raul Valle, do WWF-Brasil. “A floresta não suportará mais quatro anos com essa pressão”.

CNN Brasil, Estadão, Folha, g1, Jornal Nacional (TV Globo), Nexo Jornal e UOL, entre outros, destacaram os dados do DETER. No exterior, Associated Press, Guardian e Reuters repercutiram a notícia.

Em tempo: O desmatamento na Amazônia também ganhou espaço no Financial Times, que destacou dados recentes do Global Forest Watch colocando o Brasil como o principal hotspot de derrubada de florestas tropicais do mundo. De acordo com o levantamento, compilado pela Universidade de Maryland (EUA) e o WRI Internacional, o país concentrou quase a metade da taxa global de desmate em 2021, com a perda de mais de 1,5 milhão de hectares (cerca de 15 mil km2).

 

ClimaInfo, 9 de maio de 2022.

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