“Centrãoduto” provoca queda de ministro de minas e energia

Centrãoduto
Divulgação

De supetão, o presidente da República anunciou nesta 4ª feira (11/5) a exoneração do ministro de minas e energia, almirante Bento Albuquerque, um dos poucos remanescentes do primeiro ministério do atual governo. De acordo com o Diário Oficial da União, a saída foi feita “a pedido”, ou seja, por requisição do próprio ex-ministro, mas as coisas não parecem ter sido tão simples nos bastidores.

Além da frustração com os aumentos recentes nos preços da gasolina e do diesel, o Palácio do Planalto também estaria irritado com eventuais reticências do almirante com o projeto do Brasduto, que está sendo articulado pelos aliados do governo no Congresso Nacional para gastar R$ 100 bilhões na construção de novos gasodutos pelo país afora para beneficiar interesses do empresário Carlos Suarez, vulgo “Rei do Gás”. A proposta seria inserida pelos parlamentares do Centrão como jabuti dentro do Projeto de Lei 414/2021, que trata da modernização do setor elétrico. De acordo com Mônica Bergamo na Folha, o “Centrãoduto” contaria com apoio do presidente e, por isso, Albuquerque foi forçado a puxar seu barquinho para fora do governo.

No Estadão, André Borges mostrou como o presidente mudou de posição nas últimas semanas sobre o projeto. Em setembro de 2020, o Planalto vetou trechos de uma lei que previa o financiamento público para a construção dos gasodutos, sob a justificativa de que a proposta tinha “vício de iniciativa” e que violava a Constituição. Agora, amarrado com os partidos do Centrão para as eleições de outubro, o presidente passou a apoiar a proposta, mesmo com as críticas da equipe econômica e do ex-ministro de minas e energia.

Ainda sobre o “Centrãoduto”, Tales Faria informou no UOL que o relator do PL 414, deputado federal Fernando Coelho Filho (PE), afirmou que não pretende acolher qualquer emenda ao texto que preveja a construção de gasodutos. “Sou absolutamente contra uma proposta desse tipo, que recairia sobre o custo da energia para o consumidor”, disse o parlamentar.

O sucessor de Albuquerque na pasta será o secretário de política econômica do ministério da economia, Adolfo Sachsida. O novo ministro é alinhado politicamente com o presidente da República e tido como um dos principais auxiliares de Paulo Guedes na implementação de sua “agenda econômica liberal”. Como observou Adriana Fernandes no Estadão, Sachsida terá que se equilibrar entre as necessidades estruturais do setor energético e as demandas do Palácio do Planalto em plena campanha eleitoral.

 

ClimaInfo, 12 de maio de 2022.

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