Guerra e ondas de calor podem causar mais problemas para segurança alimentar global

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Sergei Supinsky/AFP/Metsul

O mundo vive uma situação perigosa que pode ter reflexos diretos e desastrosos na segurança alimentar. O alerta foi dado pelos países do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, neste final de semana. Para o grupo, a invasão russa à Ucrânia impactou os fluxos do comércio mundial de alimentos, intensificando o problema da inflação em praticamente todos os países, com maior prejuízo àqueles mais pobres e vulneráveis.

Além dos efeitos da guerra no mercado de energia, outro problema está na interrupção da produção agrícola da Ucrânia, um dos principais “celeiros” mundiais de alimentos, especialmente trigo, que abastece mercados na Europa, África e Ásia. O país é responsável por 10% das exportações mundiais do produto, e tem um peso ainda maior nas vendas de outros itens, como milho (14%) e óleo de girassol (cerca de 50%). Associated Press, Financial Times e RFI, entre outros, destacaram a nota do G7.

Para piorar o cenário, a forte onda de calor que assola a Índia e o Paquistão forçou as autoridades indianas a interromper imediatamente qualquer venda de trigo para os mercados externos. De acordo com Nova Déli, a decisão se deve aos efeitos do calor na produção atual, que deve reduzir a disponibilidade de trigo no mercado doméstico. Para evitar o desabastecimento aos consumidores indianos, as exportações do produto estão proibidas desde a última 6a feira (13/5), com exceção de países com os quais a Índia estabeleça algum tipo de acordo. Como a Bloomberg observou, a decisão deve causar ainda mais incerteza sobre os fluxos globais de alimentos, com reflexos no custo da comida, bem como seu acesso. Guardian, Financial Times e The Telegraph também repercutiram a notícia.

O chefe do Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP), David Beasley, observou à CNN que a junção perigosa de guerra, clima extremo e pandemia pode resultar em uma “tempestade perfeita”, com efeitos imprevisíveis não apenas sobre a segurança alimentar, mas também sobre a estabilidade política, econômica e social dos países. “Se as pessoas não conseguem alimentar seus filhos e suas famílias, então a política se desestabiliza”, afirmou Beasley, que destacou o efeito-cascata que esse processo pode abrir. “A próxima coisa que você pode ter é tumultos, fome, desestabilização e, em seguida, migração em massa por necessidade”.

Em tempo: Por falar em segurança alimentar, um estudo recém-publicado mostrou que uma parcela cada vez mais diminuta da produção de grãos do mundo está sendo destinada para a alimentação daqueles que mais precisam; em contraposição, usos não relacionados à alimentação humana, como a fabricação de óleos, ração animal e biocombustíveis, estão aumentando às custas da fome dos mais pobres. De acordo com a análise, em 2030, apenas 29% da colheita global das 10 principais culturas agrícolas poderão ser consumidas diretamente como alimento nos países onde foram produzidas, abaixo dos mais de 50% que se observava nos anos 1960. Por outro lado, 16% dessas colheitas serão destinados para fins não-alimentares. Os autores destacaram os principais pontos do estudo no site The Conversation.

 

ClimaInfo, 16 de maio de 2022.

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