Indonésia muda regras para offset  em mercado de carbono

Indonésia offset carbono

A expansão dos mercados de créditos de carbono enfrenta obstáculos importantes que refletem problemas estruturais antigos desse modelo. O Wall Street Journal destacou o movimento de países como Indonésia e Papua Nova Guiné para restringir a comercialização de créditos produzidos pela preservação de suas florestas tropicais, conhecidos como REDD+. A bronca desses países está na lacuna que a proliferação de projetos privados acaba abrindo na estratégia nacional de descarbonização.

O raciocínio é o seguinte: esses projetos ajudam a arrecadar recursos financeiros importantes para remunerar aqueles que estão atuando para proteger as florestas. Isso é bom para as metas nacionais de combate ao desmatamento. Mas a venda pura e simples desses créditos para a iniciativa privada cria uma situação paradoxal: considerando um sistema de comércio de créditos com restrições para dupla contagem das reduções (ou seja, a contabilização simultânea das mitigações pelo país de origem do crédito e pelo país de destino dele, o que gera distorção no balanço líquido de carbono), os países que vendem esses créditos não poderão contabilizá-los na sua conta de reduções de emissões.

Nesse cenário, para fechar a equação do carbono, esses países vendedores de crédito terão que 1) reduzir as emissões em outros setores econômicos em um volume suficiente para compensar o que foi vendido; ou 2) comprar créditos de carbono de outros países. Ou seja, vender todos os créditos de carbono gerados no país não faz o menor sentido. É essa a lacuna que a Indonésia e a Papua Nova Guiné querem fechar.

Essa questão nos interessa aqui no Brasil. Apostar no crédito de carbono como commodity, tal como alguns defendem, a ser vendida livre e abertamente, é colocar o país em uma armadilha no cumprimento de seus objetivos climáticos. Na prática, isso pode exigir um volume ainda maior de recursos para viabilizar reduções em outros setores econômicos. Tal como nossos parceiros de floresta tropical, talvez precisemos pensar aqui também em uma “rolha” para tampar o buraco dos REDD+.

Em tempo: O plantio de árvores tem sido visto como uma das ferramentas mais simples e diretas para aumentar a capacidade de absorção do carbono que hoje está na atmosfera, contribuindo assim para reduzir sua concentração e conter o aumento da temperatura média global. No entanto, dois novos estudos mostraram que uma das premissas dessa ferramenta pode ter problemas sérios. Por um lado, a intensificação da mudança do clima está criando estresse adicional sobre as florestas, afetando diretamente sua capacidade de absorver carbono. O simples plantio de novas árvores pode não dar conta da quantidade de carbono que precisamos que elas absorvam, exatamente por causa dos efeitos já presentes da crise climática. Em suma, as florestas ainda são um sumidouro importante de carbono, mas talvez não sejam mais suficientes para que consigamos retirar o volume necessário de carbono da atmosfera para conter o aquecimento global abaixo dos 2°C. Um dos autores publicou um artigo na The Conversation destacando os principais pontos do estudo.

 

ClimaInfo, 17 de maio de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.