Mudanças climáticas, Amazônia e sustentabilidade

Nesta aula, o físico e professor Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), traz um panorama sobre o tema, faz uma análise sobre os dados divulgados no último relatório do IPCC e aponta as consequências das mudanças climáticas na região do Amazonas.

Destaques da aula:
  • Os dados do relatório IPCC demonstram que as mudanças climáticas já estão afetando todas as regiões do planeta… e de muitas maneiras.
  • A maior parte da superfície do planeta já apresenta aumento no número de eventos climáticos extremos, como chuvas e secas. Se as emissões globais seguirem no ritmo atual, o aumento médio da temperatura no planeta será de 4,3ºC, segundo o cenário mais catastrófico da publicação. 
  • Por esse cenário, a Amazônia teria suas temperaturas elevadas, em média, entre 5,5º e 6ºC, o que acarretaria em mudanças na ordem de 20% no regime de chuvas. O Brasil se tornaria mais seco na parte central e nas regiões Norte e Nordeste.
  • As projeções do IPCC sobre a Amazônia indicam ainda que o bioma está próximo de atingir o chamado ponto de não-retorno, estágio a partir do qual o bioma perde suas características ecossistêmicas básicas e se degrada.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é uma organização científico-política criada em 1988, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial. O colegiado reúne cientistas de todo o planeta para analisar os impactos das ações humanas sobre o clima.

As principais conclusões do Relatório Síntese do AR6, divulgado pelo IPCC em 2021, foi apresentado nesta aula pelo pesquisador Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do IPCC. Ele traz um viés específico para a região amazônica e apresenta as consequências que as alterações climáticas podem ter no bioma.

Entre os diferenciais desta publicação, na comparação com os relatórios publicados anteriormente, está a linguagem acessível. O IPCC buscou apresentar, de forma clara e compreensível para o público leigo, qual é o estágio em que o mundo se encontra em relação às mudanças climáticas, o que pode ser feito para freá-las e quais as consequências no caso da inação.

Os dados do relatório demonstram que as mudanças climáticas já estão afetando todas as regiões do planeta e de diferentes formas. Há mudanças que já são consideradas irreversíveis, e outras que podem ser retardadas ou interrompidas se as emissões de gases causadores do efeito estufa forem limitadas.

A maior parte da superfície do planeta já apresenta aumento no número de eventos climáticos extremos, como chuvas e secas. Se as emissões globais seguirem no ritmo atual, o aumento médio da temperatura no planeta será de 4,3ºC segundo a previsão mais catastrófica da publicação. 

Neste cenário, uma vez que o aumento de temperatura não é homogêneo em todo o planeta, a Amazônia teria seus termômetros elevados em, em média, de 5,5 a 6ºC, o que acarretaria em mudanças na ordem de 20% no regime de chuvas. O Brasil se tornaria mais seco na parte central, e nas regiões Norte e Nordeste.

Neste mesmo panorama, as regiões árticas subiriam as temperaturas em, em média, 7ºC. O resultado seria um aumento do nível do mar em até 15 metros até 2300. Isso significaria que todas as cidades costeiras sofreriam. O bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, por exemplo, teria seus prédios da orla cobertos até o segundo andar.

As projeções do IPCC sobre a Amazônia indicam, ainda, que o bioma está próximo de atingir o ponto de não-retorno, quando a floresta passará a não ter condições de se autossustentar do ponto de vista de seu ciclo hidrológico.

Trabalhos dos cientistas Carlos Nobre e Thomas Lovejoy, destacam que este ponto será com 5ºC de aquecimento na região, 40% de desmatamento, ou 30% menos chuvas – qualquer uma destas três condições levará a Amazônia ao ponto de não retorno. Atualmente, o desmatamento da Amazônia está em 19%.

Saiba mais:

IPCC: Climate change 2021
https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/downloads/report/IPCC_AR6_WGI_SPM_final.pdf Clima Sem Fake: Frear a crise climática é urgente
https://www.youtube.com/watch?v=4E1CVQ8y6GU 
Cursos ClimaInfo: Mudanças Climáticas Globais e o Futuro do Planeta 
https://www.youtube.com/watch?v=lHy2enGUwRU&t=8s 
Amazon Tipping Point, Thomas Lovejoy e Carlos Nobre: https://www.researchgate.net/publication/323341184_Amazon_Tipping_Point

Sobre o professor:

Paulo Artaxo  é professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP. É membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC. Trabalha com física aplicada a problemas ambientais, atuando principalmente nas questões de mudanças climáticas globais, meio ambiente na Amazônia, física de aerossóis atmosféricos, poluição do ar urbana e outros temas. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences  (TWAS), da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP), da coordenação do Programa FAPESP de Mudanças Globais e da Rede CLIMA do MCT. Tem mais de 450 publicações e é  um dos cientistas brasileiros mais citados mundialmente