Guerra deve colocar clima em lugar secundário na cúpula do G7

G7 2022 Guerra Ucrânia
Kay Nietfeld/dpa via AP

Os líderes das sete economias mais ricas do mundo, o G7, se reunirão em junho na Alemanha para discutir um contexto global apinhado de crises e instabilidades. O cenário externo é extremamente desafiador: guerra na Europa, tensões com a Rússia, COVID na China, petróleo mais caro, inflação e pobreza crescentes, e a continuidade das ameaças autoritárias sobre os regimes democráticos ao redor do planeta. Com uma agenda tão abrangente e repleta de problemas, os países do G7 reforçaram que não pretendem deixar a questão climática em uma condição inferior na lista de prioridades políticas do encontro de Elmau.

“O G7 pode assumir um papel pioneiro para impulsionar o fim do uso de carvão para eletricidade e descarbonizar o sistema de transporte”, defendeu Roberto Habeck, ministro de energia e clima da Alemanha, durante encontro de representantes do grupo em Berlim nesta 5ª feira (26/5). Habeck ressaltou a necessidade de os países europeus se distanciarem dos combustíveis fósseis em sua matriz energética, de maneira a aumentar a geração de fonte renovável e diminuir sua dependência do fornecimento de petróleo e gás natural da Rússia – um dos pontos mais delicados no tabuleiro geopolítico europeu depois da guerra na Ucrânia.

Na mesma linha, o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, pediu mais agilidade e velocidade dos países em seus investimentos na expansão da geração renovável de energia. “Não podemos cair na falsa narrativa de que, por causa da guerra, agora há uma desculpa para seguir investindo em fontes fósseis. Isso será catastrófico”, disse o norte-americano. Associated Press e Reuters repercutiram o encontro de ministros do G7 na capital alemã.

Entretanto, persistem as dúvidas sobre a capacidade (e, em alguns casos, a vontade) das grandes potências de oferecer soluções climáticas ao mundo. Além dos efeitos da guerra no mercado global de energia, o esgarçamento da cooperação internacional impõe uma barreira notável aos esforços coletivos para conter a crise climática. “Estávamos dizendo aos governos que eles deveriam gastar menos em equipamentos militares e mais em mudanças climáticas, porque essa era a ameaça real para o futuro”, comentou Iria Stavchuk, vice-ministra de meio ambiente da Ucrânia, ao New Statesman. “Mas esse argumento não é mais válido”. 

Além da cooperação climática, outra vítima colateral da guerra no leste europeu é a pesquisa científica. O Climate Home destacou as dificuldades enfrentadas por pesquisadores e instituições científicas na Rússia desde o começo da guerra. As sanções internacionais isolaram esses cientistas, fechando a torneira para recursos financeiros, tecnológicos e científicos. Sem esses recursos e com o governo russo cada vez mais fixado no conflito ucraniano, o estrangulamento orçamentário ameaça destruir décadas de pesquisa climática na Rússia.

 

ClimaInfo, 27 de maio de 2022.

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