
O descontrole do desmatamento no Brasil pode ter um impacto salgado para as empresas do país. Um estudo apresentado na semana passada mostrou que o prejuízo potencial da derrubada de florestas em suas cadeias de valor é de até US$ 5 bilhões, cerca de R$ 24 bilhões. Em todo o mundo, a destruição florestal pode torrar US$ 80 bilhões (R$ 386 bi).
O levantamento foi feito pela Accountability Framework Initiative (AFI) em parceria com o CDP, e também estimou o quanto custaria para as empresas implementar ações para combater o desmatamento em suas cadeias de valor. Para variar, sairia mais barato para as empresas assumirem a iniciativa na proteção da floresta do que arcar com os prejuízos pela perda delas: no cenário global, esses investimentos seriam de US$ 6,7 bilhões, bem abaixo dos US$ 80 bi de prejuízo potencial com a inação; no Brasil, o custo seria de US$ 680 milhões (R$ 3,2 bi), cerca de ⅛ do prejuízo projetado.
Os dados foram coletados a partir de um questionário sobre florestas do CDP respondido por 675 empresas que produzem ou adquirem pelo menos uma das sete commodities responsáveis pela maior parte da perda de florestas tropicais em todo o mundo: óleo de palma, produtos madeireiros, produtos bovinos (carne e couro), soja, borracha natural, cacau, e café. Esse número inclui também 100 produtores, 241 processadores, 378 fabricantes e 185 varejistas.
No geral, o cenário ainda é marcado por uma timidez dessas empresas no que diz respeito à proteção de florestas. Apenas 36% afirmaram possuir políticas de não desmatamento, sendo que 13% têm compromissos de não desmatamento alinhados à estratégia corporativa. Ao mesmo tempo, 23% das empresas apresentaram metas de certificação por terceiros vinculados aos seus próprios compromissos, e 14% possuem metas de rastreabilidade. Por falar em rastreio, 38% das empresas analisadas relataram que não têm informações sobre a origem de pelo menos metade do volume de commodities adquirido e 28% afirmaram que não possuem um sistema de rastreamento para pelo menos uma commodity.
Amazônia Atual, Folha e Valor repercutiram o estudo.
Em tempo: O Jornal Nacional da TV Globo mostrou o avanço do desmatamento na única Reserva Extrativista do Mato Grosso, a Guariba-Roosevelt. Nas últimas semanas, fiscais do IBAMA embargaram quase 2,5 mil hectares desmatados ilegalmente nessa área, com indícios de grilagem de terra e exploração ilegal de madeira. A unidade é vizinha da Terra Indígena Kawahiva do Rio Pardo, onde vivem índios isolados; o IBAMA também encontrou sinais de invasão na reserva.
ClimaInfo, 30 de maio de 2022.
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