Litigância climática: juízes alemães vistoriam lago glacial no Peru em ação contra empresa de energia

Litigância Climática Perú corte Alemanha
Luka Gonzales/AFP/Getty

Uma comitiva de juízes da Alemanha visitou o Peru na última semana para analisar as condições do lago glacial Palcacocha, que estaria sofrendo impactos da ação da empresa alemã de energia RWE. A visita faz parte de um processo histórico iniciado em 2017 na justiça alemã, que aceitou a denúncia feita pelo agricultor peruano Saúl Luciano Lliuya contra a empresa. Ele pede 17 mil euros para custos de prevenção de danos por conta do risco de avanço da água do lago sobre sua propriedade.

Nos últimos 50 anos, o volume do Palcacocha aumentou 34 vezes, impulsionado principalmente pela aceleração do degelo da cobertura de neve nos Andes peruanos. Com isso, a cidade de Huaraz e seus quase 50 mil habitantes estão sob ameaça de inundação caso o nível do lago siga aumentando.

“Espero que os juízes e também os representantes da RWE tenham percebido com sua visita o risco cada vez maior a que estamos expostos aqui. A questão para nós não é se uma inundação é iminente, mas quando e com que gravidade ela nos atingirá”, comentou Lliuya depois da visita da comitiva alemã a Huaraz.

Para os defensores da litigância climática, a ação contra a RWE representou um marco: foi a primeira vez que um tribunal decidiu que uma empresa privada com uma pegada de carbono muito grande pode, em princípio, ser responsabilizada por proteger as comunidades afetadas pelos riscos climáticos provocados por seus negócios. De acordo com a corte, isso também se aplica a danos na “vizinhança global”, tendo em vista o efeito mundial da crise climática.

AFP e Guardian destacaram a notícia.

Em tempo: Ainda sobre litigância climática, Helen Thomas escreveu no Financial Times sobre a mobilização crescente de ativistas climáticos contra a indústria fóssil dentro e fora do mundo corporativo. Com esses grupos obtendo mais força entre os acionistas e criando problemas para diretores e executivos, o foco dos litígios climáticos pode mudar: ao invés de mirar a relação entre os negócios dessas empresas e a mudança do clima, as ações podem adentrar em questões corporativas e de governança.

 

ClimaInfo, 30 de maio de 2022.

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