Brasil e Bolívia fazem queda-de-braço por preço do gás natural

Brasil Bolívia gás
Ministério de Relações Exteriores da Argentina

Principal fornecedor de gás natural do Brasil, a Bolívia está pressionando o governo federal para rever o preço aplicado na venda do combustível. A justificativa da estatal boliviana YPFB é de que, da maneira como está, o acordo de fornecimento de gás para o mercado brasileiro “prejudica a Bolívia”. Na semana passada, a empresa reduziu o volume de gás enviado ao Brasil, ao mesmo tempo em que aumentou a oferta do combustível à Argentina depois da assinatura de um novo acordo entre os dois países.

A justificativa econômica também pode ter um cunho político. O ministro de hidrocarbonetos e energia da Bolívia, Franklin Molina Ortiz, acusou a gestão “golpista” da ex-presidente interina Jeanine Áñez (2019-2020) de ter assinado um adendo ao contrato com o Brasil que trouxe prejuízos econômicos para a YPFB. Esse também foi o recorte do governo brasileiro, que reagiu à movimentação boliviana acusando o país de “orquestrar” a redução no gás fornecido ao país com fins eleitorais.

A Petrobras confirmou a redução no fornecimento de gás boliviano, mas apenas assinalou que “está tomando as medidas cabíveis” para garantir o cumprimento do contrato com a YPFB. Isso certamente terá impacto no preço do combustível no mercado brasileiro, já que o país precisará importar gás de um fornecedor externo a preços internacionais, que estão atualmente bastante salgados por conta da crise global de energia. AFP, epbr e Valor repercutiram o vai-e-vem entre Brasil e Bolívia sobre o preço do gás.

Com o fornecimento boliviano em xeque, o setor nacional de gás natural esfrega as mãos para expandir a produção doméstica e driblar eventuais restrições relativas à transição energética no mercado brasileiro. Como O Globo assinalou, o governo espera que a aprovação do marco regulatório do setor e a venda de ativos da Petrobras permita ao país dobrar a capacidade de produção nos próximos dez anos.

Mas a cautela é a senhora da razão aqui: usar esse argumento para defender investimentos bilionários em estruturas inúteis, como é o caso do polêmico Centrãoduto arquitetado pelos aliados fisiológicos do governo no Congresso, é um tremendo tiro no pé. “Isso pode gerar um elefante branco que não se pagará ou será pago pelo bolso do consumidor”, observou Sylvie D’Apote, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).

Em tempo: O dia de ontem foi movimentado no mercado de energia, com notícias sobre a compra da usina termelétrica Porto de Sergipe I, da Celse, pela Eneva. De acordo com o site Brazil Journal, a empresa teria oferecido R$ 6 bilhões pela planta, que é a maior térmica a gás natural em operação na América Latina, com capacidade instalada de 1.551 MW. epbr e Valor também repercutiram essa informação.

 

ClimaInfo, 31 de maio de 2022.

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