Estocolmo 50 anos: mundo segue tropeçando na proteção da natureza

Estocolmo+50
Nádia Pontes/DW

A celebração dos 50 anos da Conferência de Estocolmo, a primeira da ONU para o meio ambiente, aconteceu na semana passada na capital sueca com bastante pompa e circunstância, mas pouca expectativa de resultado prático. 

A Estocolmo+50, como vem sendo chamada, sofreu com uma falta crônica de atenção das principais lideranças internacionais: como observou a Deutsche Welle, apenas 10 chefes de Estado e de governo estavam previstos para participar do encontro; o Brasil, por exemplo, foi representado pelo ministro do meio ambiente, Joaquim Leite. O contexto internacional, com crise do petróleo e guerra na Ucrânia, também consumiu o pouco oxigênio que a ocasião teria para buscar algum resultado mais substancial.

O balanço dessas cinco décadas também incomoda: à despeito de alguns sucessos pontuais (e, muitas vezes, simbólicos) da questão ambiental, a experiência do último meio século deixou um gosto amargo de fracasso em nossa boca. Isso piora se considerarmos o que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Tomado pela “boiada” antiambiental, o país deixou de ser o protagonista de décadas atrás para virar um vilão ambiental. “Cerca de 400 mil km2 de floresta amazônica foram ao chão desde a Cúpula da Terra na capital fluminense”, escreveu Marcelo Leite na Folha. “Mais da metade do Cerrado virou cinzas, a maior parte após 1992, sob o trator dos sojeiros e a pata do boi”.

“O Brasil do governo [atual] é completamente obtuso em relação à importância ambiental, o que gera isolamento e consome o capital diplomático importante que o país tinha no plano internacional”, lamentou o ex-chanceler Celso Lafer para a Deutsche Welle.

Na mesma linha, Jorge Pontes destacou na VEJA que o Brasil vive um “período de trevas” em termos ambientais. “Retroceder, em questões ambientais, é algo perigosíssimo, pois não sabemos se ainda nos resta, nessa altura dos acontecimentos, tempo suficiente para revertermos muitos dos danos já causados à natureza”.

Até mesmo representantes oficiais do país em Estocolmo, como o ministro Antonio Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), reconhecem que a situação brasileira na questão ambiental é, no mínimo, constrangedora. “O Brasil tem um dos mais avançados sistemas legislativos de proteção do meio ambiente do mundo, e não precisamos ser modestos quanto a isso. O nosso calcanhar de Aquiles é na implementação”, disse Benjamin à jornalista Lúcia Müzell na RFI. “São leis que existem, mas ao mesmo tempo não, porque são ignoradas, desrespeitadas à luz do dia”.

Como destacou Ana Carolina Amaral na Folha, a posição política do Brasil em 2022 representa uma volta no tempo: sai a liderança proativa dos tempos da Rio-92 e retorna uma postura defensiva, pouco propositiva e desconfiável na época de Estocolmo-72, bem ao estilo saudosista do atual presidente da República com a ditadura militar.

 

ClimaInfo, 6 de junho de 2022.

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