Antonio Nobre: presidente “jogou gasolina na fogueira da destruição” da Amazônia

Antonio Nobre
Acervo pessoal

O legado ambiental do atual governo federal é marcado pela destruição. A legislação, os órgãos de proteção, as políticas públicas, as florestas, os defensores das florestas – todos eles foram alvos de sucessivos ataques nos últimos três anos, o que intensificou o processo de devastação em todo o país, com impacto especial na região amazônica.

“A [atual] gestão jogou gasolina na fogueira da destruição”, afirmou o cientista Antonio Nobre, do INPE, um dos principais estudiosos sobre clima e Amazônia, para Lucas Altino n’O Globo. “Pela estimulação do desmatamento, pelo desmonte dos mecanismos de controle, pelo congelamento do Fundo Amazônia, pela estimulação da invasão de Áreas Protegidas, pela perseguição às organizações de defesa da floresta e dos indígenas”.

Nobre ressaltou os impactos potenciais da degradação da Amazônia, inclusive para o agronegócio que segue pressionando a fronteira do desmatamento, e a necessidade do governo restabelecer o plano de combate ao desmate, com foco no desmatamento zero. “O Brasil é o único país no mundo que já fez, e foi até premiado por isso”.

Na mesma linha, outros estudiosos e ativistas ambientais ressaltaram n’O Globo a necessidade de um novo olhar para a Floresta Amazônica que a coloque acima da simples imagem de provedora de matérias-primas. “O Brasil e o mundo precisam parar de olhar para a Amazônia como uma fonte de minério e madeira. O enfrentamento das mudanças climáticas deve colocar em primeiro plano o bioma, com rigor na preservação e um modelo econômico sustentável”, defendeu Marcio Santilli, do Instituto Socioambiental (ISA).

Já o bispo católico de Manaus (AM), D. Leonardo Steiner, ressaltou o peso do atual governo no estado insustentável de coisas na Amazônia. “O governo tem colaborado nessa destruição, pois poderia proteger, mas não fiscaliza, não protege, ataca as instituições. As atitudes e falas têm incentivado o garimpo e deixado comunidades indígenas desprotegidas, afirmou o recém-nomeado cardeal brasileiro em entrevista à Folha. “Perdeu-se o horizonte da ética nas relações e, por isso, a Justiça”.

Em tempo: No Valor, Daniela Chiaretti deu mais detalhes sobre a tal “câmara técnica” criada pelo governo federal para “qualificar os dados sobre desmatamento”. Curiosamente, o grupo não conta com representantes do INPE, órgão responsável pelo monitoramento via satélite da floresta. Em compensação, até mesmo o ministério da economia, que não tem muito a ver com floresta, terá assento no grupo. “Soa muito estranho, frente a todos esses anos de ataques aos dados do INPE, que se crie uma câmara técnica nessas bases”, observou uma fonte. “Os ministérios indicados não têm os quadros técnicos necessários para qualificar os dados do INPE. Qual seria o papel desse comitê na divulgação dos dados anuais do PRODES, por exemplo?”.

 

ClimaInfo, 7 de junho de 2022.

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