Como catalisar uma economia sustentável com base na bioeconomia

Nesta aula, o engenheiro florestal Carlos Koury explica sobre foi como é possível trazer soluções criativas para os desafios sociais e ambientais que impactam, principalmente, os povos mais vulneráveis da floresta. Apresenta, ainda, a ideia da bioeconomia, uma nova economia de baixo carbono baseada na valorização dos habitantes da floresta e no uso sustentável dos recursos.

Destaques da aula:
  • Modelos de produção da bioeconomia priorizam a manutenção da floresta em pé e a valorização das comunidades originárias e tradicionais da região.
  • Existem exemplos prósperos de pequeno e médio porte, que comprovam a viabilidade de iniciativas da bioeconomia.
  • Para que essas e outras iniciativas ganhem escalas, e para que a Amazônia aumente sua relevância econômica, é preciso fortalecer todos os elos dessas cadeias, resolvendo carências importantes, como a da questão logística.

A Amazônia é considerada um controlador climático mundial, com forte influência sobre o equilíbrio planetário. Contudo, se o modelo de exploração da floresta não for rapidamente modificado, ela pode migrar para uma posição oposta, passando a emitir mais gases de efeito estufa do que é capaz de sequestrar. 

A possibilidade desse cenário se tornar real chama a atenção aos olhos do mundo para a floresta. A busca de soluções é urgente. A maior parte dessas emissões está ligada a queimadas, realizadas por ação humana com o objetivo de exploração das terras, principalmente para agropecuária. O melhor caminho para contenção desse movimento é a adoção de modelos de produção da bioeconomia, que priorizam a manutenção da floresta em pé e a valorização das comunidades originárias e tradicionais da região. É isso que defende o engenheiro florestal Carlos Koury.

Nesta aula, ele apresenta algumas das iniciativas do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), organização não-governamental, sem fins lucrativos que atua em projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia.

A maior floresta tropical do planeta ocupa 55% do território brasileiro, mas gera apenas cerca de 8% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Para que o bioma amazônico deixe de ser alvo de depredação e passe a protagonizar o desenvolvimento de uma nova economia sustentável e inclusiva, é preciso conhecer suas vocações e entender como transformá-las em riquezas.

Existem exemplos prósperos de pequeno e médio porte que comprovam a viabilidade de iniciativas da bioeconomia. Estudos na região de Apuí atestaram a possibilidade de se ampliar de três a cinco vezes a produção pecuária sem desmatar novos espaços – apenas criando mais animais por área, em um modelo de pastoreio rotacional semi-intensivo.

Naquela mesma região, o projeto café com agrofloresta aproveitou os pés de café abandonados e que se misturaram à floresta. Sem desmatar, hoje a produção de café gera um produto com 250% maior valor agregado. Essa iniciativa resulta, ainda, na demanda por mais sementes para manutenção do sistema agroflorestal, o que envolve cerca de 100 famílias na Rede de Sementes de Apuaí.

Em outra unidade de conservação, a RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Uatumã, a vocação identificada foi a pesca esportiva. O turismo na área é administrado de forma coletiva, e há famílias gerando renda com pousadas, e outras recebendo os pescadores. Todas se tornam aliadas na preservação dos peixes, que são o insumo motriz daquele sistema que gera cerca de R$ 2 milhões ao ano em receita.

Também na RDS Uatumã existe a extração de óleo vegetal de Breu Branco, um insumo que foge daqueles tradicionalmente valorizados, como as castanhas e o açaí. O litro desse óleo é comercializado com valores que variam de R$ 700 a R$ 1,3 mil, gerando ainda mais renda para a comunidade local.

Há ainda conceitos mais disseminados, como o da valorização dos serviços ambientais, quando se paga apenas pela manutenção da floresta em pé. Indústrias de cosméticos e da borracha já têm reúnem exemplos nos quais a empresa paga ao mesmo fornecedor pela compra do insumo e pela conservação ambiental.

Para que essas e outras iniciativas ganhem escalas, e a Amazônia aumente sua relevância econômica, é preciso fortalecer todos os elos dessas cadeias, resolvendo carências importantes, como, por exemplo, as que envolvem a questão logística.

Saiba mais:

Amaz – Aceleradora de Impacto
https://amaz.org.br
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam)
Como a economia da floresta pode salvar a Amazônia
Café em agrofloresta
RDS do Utuamã
Programa Carbono Neutro
Movimento Amazônia em Casa, Floresta em pé
Folha de S. Paulo
Programa de aceleração investirá em negócios de impacto na Amazônia
G1
Mudanças recentes no clima causadas pelo homem não têm precedentes, aponta relatório da ONU
Clima Sem Fake
Bioeconomia – Ana Euler
National Geographic Brasil
Amazônia pode estar agravando as mudanças climáticas, indica estudo inédito
Programa de Aceleração PPA (Parceiros pela Amazônia) https://ppa.org.br/programa-de-aceleracao-ppa/
Invista Amazônia
https://www.invistanoamazonas.com.br

Sobre o professor:

Carlos Koury é graduado em Engenharia Florestal pela Universidade de São Paulo (USP) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (2003). Atualmente, é diretor-executivo do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), atuando diretamente com políticas e extensão florestal e gestão de Unidades de Conservação. Atuou em projetos de gestão territorial, diagnósticos socioeconômicos, proposição de leis e normativas voltadas ao ordenamento territorial, à produção extrativista e ao desenvolvimento socioeconômico, além de ter participação em fóruns públicos de caráter socioambiental.