Com desmatamento na bagagem, Bolsonaro vai à Cúpula das Américas como “vilão” da vez

Cúpula das Américas
Reprodução Twitter

O presidente da República finalmente se encontrou com seu colega dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta 5ª feira (9/6) em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas. Desde o começo da gestão Biden na Casa Branca, em janeiro de 2021, os dois chefes de Estado sequer trocaram um telefonema, reflexo das desavenças políticas e ideológicas entre ambos. 

No entanto, para os dois lados, o encontro teve importância estratégica: para os EUA, como um exemplo de engajamento da Casa Branca com a maior economia da América Latina em um momento crítico global; para o Brasil, como um colete salva-vidas para a diplomacia do país.

Por essa razão, ao menos formalmente, não se esperava cobranças incisivas nem discussões mais ásperas entre os dois lados. Biden preparou o terreno para a conversa na noite de 4a feira (8/6), durante a abertura da Cúpula, quando anunciou uma contribuição de US$ 12 milhões para ações de combate ao desmatamento na Amazônia do Brasil, Colômbia e Peru. A quantia é quase simbólica e vem cheia de “poréns”, mas é a primeira oferta formal de recursos ao Brasil sob a atual gestão norte-americana. El País deu mais informações. 

Outro “carinho” de Biden para o governo brasileiro foi o convite para unir forças com os EUA e outros grandes produtores agrícolas do continente americano para reforçar a oferta de alimentos para o resto do mundo, no contexto da crise causada pela guerra na Ucrânia e a disparada do petróleo no mercado internacional. A BBC Brasil abordou essa sinalização.

Ao mesmo tempo, a Casa Branca tem sido contida em suas manifestações sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na Amazônia. Por ora, o governo norte-americano se limita a dizer que está “acompanhando” o caso. No entanto, é exatamente este o principal ponto fraco do Brasil em Los Angeles: a falta de ação do governo nas buscas pelos desaparecidos se soma a um histórico infame de devastação ambiental e menosprezo às iniciativas internacionais para proteção do meio ambiente e dos Povos Indígenas. 

Para Maria Cristina Fernandes, do Valor, “O encontro dos presidentes Jair Bolsonaro e Joe Biden frustrou as apostas de que haveria cobranças públicas sobre os temas que mais têm antagonizado os dois dirigentes, a democracia e a pressão climática. Isso não significa que tenha havido entendimento. Mas o brasileiro conseguiu a foto de que precisava e evitou o vexame de ser pressionado.” Ponto para o brasileiro.

A BBC Brasil havia afirmado que o caso do desaparecimento de Bruno e Dom no vale do rio Javari deveria assombrar o presidente brasileiro em sua passagem por Los Angeles. Deutsche Welle e RFI também abordaram o cenário que antecedeu a conversa de Biden e seu colega brasileiro.

Em tempo: Malu Gaspar, n’O Globo, informa que antes de regressar ao Brasil, Bolsonaro deve fazer uma motociata em Orlando, na Flórida.

 

ClimaInfo, 10 de junho de 2022.

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