Justiça determina reforço federal nas buscas por indigenista e jornalista na Amazônia

Dom Phillips e Bruno Pereira
ilustração Cris Vector

A displicência do governo federal e das Forças Armadas nas buscas pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foi reconhecida até mesmo pela Justiça. Nesta 4ª feira (8/6), a juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe, da Justiça Federal da 1a Região, determinou que as autoridades federais disponibilizem imediatamente helicópteros, embarcações e equipes de busca para a região do Vale do Javari, entre a comunidade de São Rafael e o município de Atalaia do Norte, perto da fronteira do Brasil com o Peru.

Pela decisão, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) poderão requisitar apoio diretamente à Polícia Federal, ao Comando Militar da Amazônia e à Força Nacional de Segurança Pública.

A magistrada assinalou que o governo federal tem sido repetidamente cobrado pela Justiça para ampliar as ações de proteção aos grupos indígenas dentro da Terra Vale do Javari, o que não tem sido cumprido. Ela lembrou também a morte do servidor da FUNAI Maxciel dos Santos Pereira em setembro de 2019, que teria sido executado por possível retaliação de criminosos à atuação em defesa dos Povos Indígenas da região; meses depois, a Justiça Federal determinou que a União mantivesse esforços de proteção indígena. “O que se verifica, contudo, é que a Terra Indígena Vale do Javari vem sendo mantida com situação de baixa proteção e fiscalização”, observou. Folha, g1, UOL e Valor, entre outros, repercutiram a decisão.

Em conversa com a BBC Brasil, o defensor público federal Renan de Oliveira, responsável pela ação que resultou na decisão judicial de ontem, cobrou mais proatividade do governo e dos militares nas buscas no Vale do Javari. “O Estado brasileiro deveria estar todo mobilizado para achar Bruno e Dom. Deveríamos ter aeronaves e muito mais pessoas envolvidas”.

Enquanto isso, a Polícia Militar do Amazonas deteve na última 3a feira um homem suspeito de envolvimento no desaparecimento de Pereira e Phillips. Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como “Pelado”, foi ouvido ontem em Atalaia do Norte. Segundo testemunhas, ele teria perseguido a embarcação do jornalista e do indigenista depois deles deixarem a comunidade de São Rafael na manhã do domingo (5/6). O suspeito negou ter informações sobre o caso ou sobre o paradeiro dos desaparecidos, mas segue detido pelos policiais por ter sido flagrado com munição de uso restrito.

De acordo com Eliésio Marujo, advogado da União dos Povos Indígenas do Javari (UNIJAVA), “Pelado” seria um dos pescadores que teriam ameaçado Pereira e outros indígenas dias antes do desaparecimento. “Quero saber se ele atira bem”, teria provocado Amarildo ao encontrar Pereira e outros membros da UNIJAVA durante uma ação de proteção indígena na semana passada. O Globo deu mais detalhes. Estadão, Folha, g1 e O Globo, entre outros, destacaram a prisão do suspeito.

O desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, além da omissão do governo federal e dos militares nas buscas por eles na Amazônia, também foram destaque na imprensa internacional nos últimos dias. BBC e Guardian repercutiram os apelos de familiares dos desaparecidos por mais apoio das autoridades brasileiras. A AFP e a Reuters deram informações sobre as primeiras investigações do caso.

 

ClimaInfo, 9 de junho de 2022.

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