Governo brasileiro escapa de cobranças sobre Amazônia na Cúpula das Américas

Cúpula das Américas
2022 AP Photo/Evan Vucci

Para quem esperava por puxões de orelha e cobranças públicas, o resultado do encontro entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e seu colega brasileiro na última 6ª feira (10/6) em Los Angeles foi um balde de água fria. Como assinalado aqui na semana passada, os dois governos tinham motivos de sobra para evitar o confrontamento: pelo lado norte-americano, o risco de esvaziamento da Cúpula das Américas deixou Biden em uma posição defensiva; já pelo brasileiro, o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia expôs o país a mais uma casca de banana internacional.

Ou seja, o “zero a zero” saiu barato para ambos. Biden conseguiu sair de Los Angeles com algum acordo – ainda que irrisório e genérico – para combater o desmatamento na Amazônia. Já o presidente brasileiro conseguiu fazer aquilo que mais lhe agrada: falar qualquer besteira pelos cotovelos sem ser questionado pelo interlocutor.

Tanto na conversa com Biden quanto em seu pronunciamento aos líderes das Américas na Cúpula, o presidente brasileiro repetiu as mentiras de sempre: que o Brasil é o país que “mais protege” o meio ambiente, que o governo está dedicado ao combate ao desmatamento, e que o agronegócio não tem qualquer responsabilidade pela expansão da destruição florestal na Amazônia. Outra mentira foi a de que o governo estaria fazendo todo o necessário nas buscas por Pereira e Phillips no Vale do Javari – o que ninguém, dentro e fora do Brasil, acredita.

Nas discussões bilaterais entre Brasil e EUA, a viagem do presidente não resultou em qualquer novidade prática. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ressaltou que a Casa Branca segue preocupada com a situação do desmatamento na Amazônia e que o governo brasileiro prometeu ações para combater a destruição. Nem mesmo a oferta de dinheiro dos EUA para proteção da floresta trouxe grande coisa: afinal, como bem destacou a ativista Sônia Guajajara no UOL, a promessa de meros US$ 12 milhões é “uma vergonha”.

A indisposição de Biden em criticar o colega brasileiro foi péssimamente vista entre ativistas ambientais e de Direitos Humanos. “Biden desperdiçou a chance de usar seu encontro com B******** para ajudar os corajosos defensores da Amazônia”, destacaram Maria Laura Canineu e Luciana Téllez Chávez, da Human Rights Watch. “Estes defensores estão colocando suas vidas em risco para proteger a maior floresta tropical do mundo que é também um importante escudo contra a mudança climática. Biden deveria corrigir este erro e insistir para que B******** reverta suas políticas nocivas e coloque o Brasil de volta no caminho do combate do desmatamento e da proteção dos defensores da floresta contra a violência”.

Em tempo: Os ministros da OCDE deram sinal verde para o roteiro de adesão do Brasil à entidade, uma das prioridades de política externa do atual governo. O roadmap oferece a chance mais clara para que esse objetivo seja alcançado, mas suas disposições não garantem uma adesão fácil e imediata para o Brasil. Antes de entrar formalmente na OCDE, o país terá que alinhar suas políticas de proteção ambiental e ação climática às condicionantes e objetivos do grupo. Outro ponto será o respeito ao Estado de Direito e às instituições democráticas, pontos particularmente frágeis sob o atual governo federal. BBC e RFI destacaram esses pontos, e o Política por Inteiro fez um raio-X das exigências climáticas da OCDE para o Brasil.

 

ClimaInfo, 13 de junho de 2022.

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