Governo tenta rebater críticas internacionais por desaparecimento na Amazônia

ONU Direitos Humanos
Fabrice COFFRINI / AFP

Ao invés de reconhecer a gravidade da situação no Vale do Javari e sua responsabilidade no estado geral das coisas, o governo brasileiro adotou a estratégia “nem vem que não tem” para responder às críticas internacionais sobre o descaso oficial com a Amazônia. Nesta 3ª feira (14/6), o embaixador do Brasil para a ONU em Genebra, Tocar Nunes, refutou as observações feitas pela alta-comissária para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, sobre a insegurança de indígenas e ambientalistas no país, bem como ataques contra as instituições democráticas.

“Lamentamos que seu último informe não reconheça os esforços do Brasil para promover os direitos humanos e a democracia”, afirmou Nunes, que defendeu que o governo federal vem “fortalecendo” seu programa de proteção, incluindo jornalistas e ambientalistas. Curiosamente, o embaixador não reservou uma sílaba sequer para comentar o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia e nem o aumento da violência contra indígenas e ambientalistas no Brasil nos últimos anos. Jamil Chade deu mais informações no UOL.

Para refrescar a memória do embaixador, talvez valha a pena alguém mandar para ele a reportagem de João Fellet na BBC Brasil que listou os casos de ameaça de morte contra indígenas e ativistas nos últimos anos. Desde 2019, 96 lideranças indígenas e servidores públicos que trabalham com comunidades indígenas foram ameaçados, de acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra; só no ano passado, foram 32 casos.

Ainda sobre “proteção indígena” pelo governo federal, o Mongabay destacou um levantamento da própria União sobre o número de imóveis rurais em Terras Indígenas que foram registrados, contrariando a legislação. Desde abril de 2020, quando a FUNAI publicou uma instrução normativa que permitiu esse “liberou-geral”, mais de 250 mil hectares de fazendas em áreas indígenas foram regularizados pelo governo federal.

Em tempo: Instrumentalizadas politicamente pelo presidente da República, as Forças Armadas protagonizam atualmente dois episódios lamentáveis. O primeiro, como bem destacamos na semana passada, é a omissão dos militares nas buscas por Bruno e Dom no Vale do Javari, o que pode ter custado horas ou mesmo dias preciosos logo após o desaparecimento. O segundo, igualmente desabonador e ainda mais trágico para o Brasil, o documento amargurado encaminhado pelo ministro da defesa ao Tribunal Superior Eleitoral sobre o risco de “fraude” na votação eletrônica nas eleições de outubro. O tempo, a dedicação e os recursos gastos em uma coisa inexistente são exatamente os mesmos que faltaram no caso de Bruno e Dom. “Onde a soberania nacional está ameaçada? Onde o crime se substitui ao Estado, onde ele se espalha invadindo territórios impunemente. Não no TSE, mas no Vale do Javari”, destacou Míriam Leitão n’O Globo.

 

ClimaInfo, 15 de junho de 2022.

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