Segurança alimentar e clima: como alimentar um planeta mais quente?

insegurança alimentar
César Rodríguez/The Guardian

Como a imprensa internacional e muitos analistas políticos já vinham antecipando, as consequências da guerra da Rússia contra a Ucrânia estão agravando uma crise de fome em escala global. O New York Times não faz rodeios sobre a natureza grotesca desta crise: não é sobre escassez. Esta é uma crise de fome ligada ao acesso desigual à comida, uma barbárie que depõe contra todos os avanços do atual estágio civilizatório. 

Neste século, a produção de culturas que estão na base da alimentação – açúcar, milho, trigo e arroz – cresceu 52%, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Já o número de pessoas em insegurança alimentar segue aumentando desde 2015 devido principalmente a conflitos armados.

Os últimos dois anos pioraram este cenário. A pandemia afetou o abastecimento. A invasão Russa à Ucrânia fez o preço dos fertilizantes, dos combustíveis e da própria comida dispararem. A fome seria, inclusive, a principal estratégia russa contra as sanções econômicas aplicadas por Europa e EUA, como confessou publicamente Margarita Simonyan, uma das principais propagandistas do governo Putin. E no bojo desses infortúnios, as mudanças climáticas tornaram mais severa uma onda de calor precoce na primavera indiana que destruiu campos de trigo cruciais neste momento – um aperitivo do que seria a Terra aquecida para além da meta de 1,5oC do Acordo de Paris. Bons resumos sobre as causas desta crise multifatorial podem ser lidos no site da Earth.org e no blog do Banco Mundial.  

Enquanto governos (menos o do Brasil) criam políticas para garantir reservas nacionais de alimentos, pesquisadores se perguntam o que deveria mudar para levar comida à mesa das pessoas. Um dos argumentos é aumentar a variedade, e plantas comestíveis não convencionais poderiam ter um papel importante. O DW aborda uma dessas comidas “esquecidas”: o painço, uma espécie de “milhete” com alto valor nutricional, resiliência climática e baixa emissão de gases de efeito estufa.

Já o Guardian explica como os cientistas de Sonora, no México, estão correndo para desenvolver um trigo mais resistente a ondas de calor e outros eventos extremos de tempo. Mas em muitos casos, a conta simplesmente não fecha e a busca por alternativas não deve evitar colapsos iminentes.

O consumo de tomate nos EUA, por exemplo, já estava muito acima da sua capacidade de produção e dos recursos naturais disponíveis para isso, principalmente no que se refere à água na Califórnia, maior região produtora.

A National Geographic explica que as ondas de calor e a seca agora persistentes naquele estado dos EUA estão levando grandes consumidores industriais a programar aquisições antecipadas e a cobrar a execução de cada fruto registrado em contrato. Tomate pouco, meu ketchup primeiro.

 

ClimaInfo, 21 de junho de 2022.

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