“Ainda sabemos pouco sobre quais são os fatores que podem levar florestas a estocar mais ou menos carbono”

Mata Atlântica
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A frase, de Renato Augusto Ferreira de Lima, pesquisador da USP e de um centro de pesquisa francês (CESAB, em Montpellier), reflete um trabalho que ele e outros pesquisadores acabam de publicar na Science Advances.

O foco do trabalho foi os impactos das atividades humanas sobre o estoque de carbono da Mata Atlântica, onde eles estimam que estas atividades têm um peso 30% maior do que outros fatores naturais. “Assim, nossas descobertas sugerem que a conservação dos estoques de carbono tropical podem depender, principalmente, de se evitar a degradação das florestas e que políticas de conservação focadas apenas no carbono podem falhar em proteger a biodiversidade tropical.”

A Revista da FAPESP comentou o trabalho e explica esse último ponto: “O estudo também aponta que a relação entre a biodiversidade e os estoques de carbono é fraca na Mata Atlântica. Isso revela que as políticas de conservação focadas apenas no carbono podem falhar na proteção da biodiversidade e destaca a importância de implementação de mecanismos de incentivos complementares e separados que visem alcançar também a preservação de espécies.” A Folha também comentou o trabalho.

Em tempo: Maggi Astor, no New York Times, escreve sobre o perigo de se compensar emissões de viagens aéreas comprando-se créditos de carbono. Ela cita um trabalho da Comissão Europeia que identificou problemas quanto à adicionalidade de 85% dos créditos de carbono emitidos pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU. A maior parte deles vieram de projetos de fontes renováveis como eólicas e solares, cujos custos de instalação despencaram na última década. Isso acabou fazendo com que os principais certificadores do mercado voluntário – Verra/VCS e Gold Standard – deixassem de aceitar novos projetos deste tipo. É esperado que o novo mecanismo do artigo 6.4 do Acordo de Paris faça o mesmo. Astor também cita outro trabalho que mostrou que os projetos florestais norte-americanos apresentados ao sistema da Califórnia ganharam mais créditos de carbono do que deveriam por conta de um ponto falho na regulação do sistema, ponto este já consertado. Se é verdade que os sistemas de créditos de carbono são falhos, também é importante lembrar que houve redução real de emissões e que comunidades se beneficiaram tanto dos projetos em si quanto das receitas de venda dos créditos. O desafio é não deixar o peso da água suja ser maior do que o do bebê. A Folha publicou uma tradução do artigo da Astor.

 

ClimaInfo, 22 de junho de 2022.

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