Amazônia violenta

violência na Amazônia
Pedro Ladeira/Folhapress

O governo não tem poupado esforços na tentativa de minimizar o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips. Nesta segunda (20/6), quem decidiu meter os pés pelas mãos foi o general vice-presidente Hamilton Mourão: “Na minha avaliação deve ter acontecido no domingo, domingo a turma bebe, se embriaga, mesma coisa que acontece aqui na periferia das grandes cidades. Aqui em Brasília a gente sabe, todo final de semana tem gente que é morta aí a facada, tiro, das maneiras mais covardes, normalmente fruto de quê? Da bebida. Então, mesma coisa deve ter acontecido lá”,  relata O Globo.

Valor e Folha repercutiram a gafe vice-presidencial, citando a reação da UNIVAJA: “O vice-presidente demonstra desconhecimento acerca da nossa região, a tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru, onde o narcotráfico é um operador central”.

Na Globo News, Míriam Leitão foi direto ao ponto: “Quando a gente supera o asco natural diante de declarações como estas de uma autoridade da República [Mourão] , a gente vê o que significa: significa a cumplicidade com o crime”.

No Valor, Daniela Chiaretti dá um passo adiante e explica que não se trata apenas de crime, mas de uma guerra, na qual os assassinatos de Bruno e Dom foram apenas mais dois nas dezenas de baixas entre os que defendem a floresta.

A violência na região foi mostrada também na edição de ontem do programa Profissão Repórter, da TV Globo, no qual outros ameaçados por defender o meio ambiente e a Amazônia relatam perseguição e morte.

O Brasil de Fato optou por mergulhar nos relatórios da UNIVAJA, citados em notas da entidade na semana passada, que provam a atuação de saqueadores profissionais no Javari. São inúmeros casos de flagrantes, com descritivo, data e local, encaminhados às autoridades locais – a maioria, sem qualquer ação por parte da FUNAI ou da polícia. Os relatos dão a dimensão dos crimes ambientais e mostram a escalada da violência.

Enquanto isso, a investigação segue. A embarcação de Bruno e Dom será periciada nesta segunda, segundo o g1. O portal também relatou os tropeços de Amarildo em seu depoimento.

Uma das linhas de investigação seria a dívida do réu confesso, Amarildo, com o atravessador de pescado e caça peruano Rubens Villar Coelho, o “Colômbia”, como informamos ontem. Se a apuração da Amazônia Real se provar verdadeira, esta tese tende a ganhar corpo. Segundo a publicação, indígenas e não indígenas ouvidos pela reportagem revelaram que Amarildo estaria devendo ao menos R$ 80 mil para Colômbia. O valor seria o resultado de “prejuízos” que Amarildo e outros pescadores e caçadores tiveram com carregamentos de peixes e animais silvestres apreendidos por causa do monitoramento da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU), assessorada pelo indigenista Bruno Pereira, na Terra Indígena Vale do Javari. 

Em tempo: Rebecca Carter, agente literária do jornalista Dom Phillips, e a editora Manilla Press, que previa lançar o livro “How to Save the Amazon” no ano que vem, querem “recuperar e publicar” a pesquisa do jornalista sobre Amazônia para que o trabalho de pesquisa de Dom sobre a Amazônia não “tenha sido em vão”. A notícia é do g1.

Em tempo 2: Em sua coluna n’((o)) Eco, Claudio Maretti publica uma Carta aberta pelo futuro da Amazônia e do Brasil, com 12 propostas para a Amazônia, os Povos Indígenas, as Comunidades Tradicionais, a Natureza e o desenvolvimento sustentável no Brasil.

 

ClimaInfo, 22 de junho de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.