crise dos combustíveis
Armando Paiva/Raw Image/Estadão Conteúdo

O combustível explosivo para desmontar estatais e furar o teto de gastos

O governo vai mudar a lei das estatais por medida provisória. A desculpa é querer mudar a política de preço dos combustíveis da Petrobras, mas o efeito pode ser desmontar a governança e, portanto, o valor de ativos do patrimônio público.

A lei, promulgada após a constituição de 1988, restringe – embora não acabe com – o apadrinhamento político, impõe controles anticorrupção, enfim, coisas que o Centrão adoraria abolir.

O Estadão traz a declaração do presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais: “Seria um enorme retrocesso a flexibilização dessas regras neste momento, com a sinalização de enfraquecimento da governança corporativa e de abertura para ingerências políticas em todas as estatais”. E fazer isso por medida provisória é, criar o fato consumado sem a participação do Congresso.

Não bastasse isso, parece que o governo também quer decretar estado de emergência para poder aumentar gastos fora do teto. A desculpa, segundo informa Andréia Sadi, n’O Globo, é dar uma mesada para os caminhoneiros. Estourar o teto de gastos é tudo que uma campanha de reeleição sonha – desde a do presidente até a de todo o Centrão.

Nos EUA, segundo o Valor e a BBC, o presidente Biden pediu ao Congresso a suspensão temporária do imposto federal sobre combustíveis e pediu aos estados que façam o mesmo. Duas diferenças importantes entre Biden e o atual presidente do Brasil: primeiro, pedir é diferente de trovejar e ameaçar. Segundo, e mais importante, só pelo anúncio o preço do barril caiu 4%. A notícia da queda saiu no Valor e na Exame.

Em tempo 1: Por falar nos caminhoneiros, o congresso e o governo tinham sinalizado com uma bolsa-caminhoneiro de R$ 400 para diminuir a temperatura e evitar que uma paralisação empurre a economia e as eleições para o precipício. Coisa que a classe considerou menor que uma esmola. Ao mesmo tempo, o presidente jogou mais gasolina, diesel e botijões de gás na fogueira ao pedir para Zé Trovão, ligado à categoria, que protestasse em frente às refinarias de petróleo na 2ª feira, 27/6, exigindo um corte de 25% no preço do diesel e 15% no preço da gasolina e do etanol. A notícia saiu no Metrópoles, no UOL e em duas matérias da Veja (1) e (2).

Em tempo 2: A situação dos caminhoneiros na Argentina é ainda mais grave: falta diesel. Desde 3ª feira, o movimento de paralisação se espalhou e, ontem, fechou a estrada que liga Buenos Aires a La Plata, virtualmente isolando a capital. Segundo o Valor, há bloqueios entre Buenos Aires e La Plata, entre Rosário e Córdoba e entre Buenos Aires e Rosário, além de outros pontos do país. Enquanto isso, no Equador, o aumento do preço dos combustíveis também está por trás dos protestos que se aproximam de Quito. O governo decretou estado de emergência em 6 das 23 províncias do país. Roberto Lameirinhas, no Valor, lembra que manifestações populares, com forte presença dos Povos Indígenas, derrubaram 9 presidentes equatorianos entre 1996 e 2007.

 

ClimaInfo, 23 de junho de 2022.

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