Presidente insensível, indígenas ameaçados: Vale do Javari segue dominado pelo crime

Bruno e Dom violência
REUTERS/Johanna Geron

Enquanto a Polícia Federal avança nas investigações sobre o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na Amazônia, o Comentarista-Geral da República, mais conhecido como presidente da República, voltou a vomitar abobrinhas sobre o caso. Nesta 5ª feira (23/6), ele comparou o Vale do Javari com uma comunidade no Rio de Janeiro para justificar que eles não poderiam circular naquela região sem segurança.

“Os caras entraram sem segurança. Se eu subir uma comunidade no Rio de Janeiro com esse olho azul, com essa cara, à noite, vou para o microondas ou não vou?”, questionou o supremo mandatário (ai, que dor) da Nação. Curioso é que ele não se dá conta da impotência que ele expressa ao fazer essa comparação: o que falta no Vale do Javari e nas comunidades carentes do Rio de Janeiro? Presença efetiva do Estado, por meio de políticas públicas e garantias de direitos e integridade. Ao que parece, o presidente entra no debate sobre segurança pública preparado para perder sem qualquer vergonha do resultado. O Valor repercutiu a asneira presidencial.

Já em São Paulo, as forças de segurança detiveram ontem o 4o suspeito de envolvimento nas mortes de Bruno e Dom. Gabriel Pereira Dantas se apresentou voluntariamente à Polícia Civil de São Paulo e reconheceu que esteve com um dos suspeitos detidos, Amarildo Oliveira, o “Pelado”, no dia do assassinato. Ele afirmou que estava na mesma embarcação que Pelado quando avistaram a lancha de Bruno e Dom passando pelo rio Itaquaí. Pelado teria disparado primeiro no jornalista e, depois, no indigenista. Gabriel também assumiu que foi o responsável por esconder os pertences das vítimas na floresta, enquanto Pelado teria buscado a ajuda de outros comparsas para se livrar dos corpos.

Segundo o Estadão, o delegado Roberto Monteiro, da Polícia Civil paulista, considera que o depoimento está bem fundamentado nos aspectos já solucionados sobre o caso. De toda forma, até o começo da noite de ontem, a Polícia Federal ainda não confirmava a relação do novo suspeito com as mortes de Bruno e Dom. Estadão, Folha e O Globo repercutiram as informações.

Já o g1 destacou o clima de insegurança que reina no Vale do Javari desde a descoberta das mortes de Bruno e Dom. Lideranças indígenas e ativistas de Atalaia do Norte (AM) afirmaram estar sofrendo ameaças repetidas de criminosos da região. Alguns afirmaram que as ameaças aconteceram inclusive durante as buscas pela dupla, antes da prisão dos suspeitos e da descoberta do assassinato. “Pelo que estamos acostumados, esse problema [de insegurança] não vai mudar nada. Não acreditamos que vá vir algum contingente [policial] para cá para fazer a segurança de todo mundo aqui”, lamentou Almério Alves Wadique, ex-agente da FUNAI e membro do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Por falar na FUNAI, a Folha destacou a paralisação de servidores da Fundação que aconteceu nesta 5ª feira. Os servidores pedem a saída do delegado da PF Marcelo Xavier da presidência da FUNAI e o reforço da segurança no Vale do Javari. Pelo menos 40 das 52 unidades da FUNAI registraram episódios de paralisação. Representantes do grupo seguem sendo ignorados pelo ministro da justiça, Anderson Torres – outro delegado da PF, aliás – em seu pedido de audiência em Brasília. “O Bruno morreu sendo servidor da FUNAI. Enquanto ele era assassinado, esquartejado, carbonizado e enterrado em cova rasa, o presidente da FUNAI, que tinha responsabilidade para com o Bruno enquanto servidor, foi à rede nacional difamá-lo, contar mentiras sobre ele”, disse Guilherme Martins, amigo do indigenista assassinado.

 

ClimaInfo, 24 de junho de 2022.

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