A comunicação e as mudanças climáticas

Nesta aula, o físico e ambientalista Délcio Rodrigues, diretor-executivo do Instituto ClimaInfo, discorre sobre o importante papel da imprensa para comunicar as mudanças climáticas. Ele expõe alguns dos obstáculos impostos aos jornalistas que se dedicam à cobertura ambiental e oferece ferramentas para que seja possível superar essas barreiras.

Destaques da aula:
  • Diferentemente de outras questões urgentes, como segurança pública ou alimentação – cujas consequências estão explícitas e são sofridas rapidamente –, as mudanças climáticas são um problema que trará consequências de médio e longo prazo. Porém, para que elas não ocorram, é preciso agir de imediato. 
  • O jornalista tem a enorme e difícil missão de demonstrar a relação entre atitudes imediatas e consequências futuras e, também, de apontar que os eventos climáticos extremos de hoje são resultado de atitudes passadas. 
  • Somam-se a esse cenário aspectos como a difícil linguagem dos documentos científicos relativos ao tema, e os interesses de indústrias poderosas, como a de combustíveis fósseis, e de setores atrasados de segmentos do agronegócio, que ainda utilizam práticas nocivas ao meio ambiente e se valem do desmatamento para crescer.

Comunicar as mudanças climáticas é uma tarefa repleta de desafios, que vão desde a complexidade intrínseca ao tema até a sensação de distanciamento que as pessoas têm sobre o assunto. 

A primeira e principal dificuldade enfrentada pelos comunicadores é trazer o sentimento de urgência para a crise climática. Diferentemente de outras questões urgentes, como segurança pública ou a própria alimentação, cujas consequências estão explícitas e são sofridas rapidamente, as mudanças climáticas são um problema que trará consequências de médio e longo prazo. Porém, para que essas consequências, como a dos eventos extremos, não ocorram, é preciso agir imediatamente. Para isso, é crucial modificar padrões de produção e as políticas públicas, e até vencer os interesses das empresas de combustíveis fósseis. 

O jornalista tem a enorme e difícil missão de demonstrar esta relação entre atitudes imediatas e consequências futuras e, também, de apontar que eventos climáticos extremos vivenciados atualmente já são resultado de atitudes do passado. “É como se o planeta Terra fosse o Titanic, e a humanidade, seu capitão. Ao saber que há um iceberg à frente, o navio, grande e pesado, precisa corrigir o curso de imediato para não colidir. Se deixar para mudar o curso mais adiante, será tarde demais, e a colisão certamente ocorrerá”, explica Délcio.

Somam-se a esse cenário aspectos como a difícil linguagem dos documentos científicos relativos ao tema, e os interesses de indústrias poderosas, como a de combustíveis fósseis, e de setores atrasados de segmentos do agronegócio, que ainda utilizam práticas nocivas ao meio ambiente e se valem do desmatamento para crescer e lucrar no curto prazo.

As estratégias de negacionistas que disseminam informações falsas, a fim de gerar dúvidas sobre fatos cientificamente comprovados, tornam ainda mais difícil a tarefa dos jornalistas de levar informação e conscientização sobre as mudanças climáticas para suas audiências.

Saiba mais:

Livro “Os mercadores da dúvida”, de Naomi Oreskes e Erik Conway
https://www.merchantsofdoubt.org/home/key-documents/
Filme Mercadores da dúvida (2014)
https://www.youtube.com/watch?v=zs8NrJl1GF0
Clima Sem Fake
Negacionismo e o aquecimento global, com Profº Alexandre Costa
Deutsche Welle
Jovens portugueses processam 33 países por clima
G1
Jovens processam governo por  ‘pedalada’ climática e pedem anulação de meta brasileira no Acordo de Paris

Sobre o professor:

Délcio Rodrigues é físico, ambientalista, diretor-executivo do Instituto ClimaInfo e líder do núcleo brasileiro da rede internacional de comunicadores climáticos GSCC. Délcio já foi diretor-executivo do Instituto Ekos Brasil, assessor da Secretaria Executiva do Ministério do Meio Ambiente, líder de Equipe Global do Greenpeace Internacional, diretor de Campanhas do Greenpeace Brasil, coordenador do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, gerente de consultoria Ibope Ambiental e analista de Planejamento Energético e Relações com Meio Ambiente de empresas de consultoria e distribuidoras de energia elétrica.