Fake news: relevância da precisão na busca por fontes e dados

Nesta aula, o jornalista Claudio Angelo, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima, resgata o emblemático caso da petrolífera Exxon para explicar a importância da precisão na busca de fontes e de dados e ressalta a necessidade de se combater as fake news para comunicar a emergência climática.

Destaques da aula:
  • Deve-se compreender que não é possível abordar as crises climática e ambiental com o mesmo pensamento que as criaram.
  • A disseminação de mentiras quando ao tema ambiental não é uma novidade. 
  • A ciência está sempre baseada em certezas e, por isso, não vale, nesse cenário, o espaço para o contraditório.
  • O compromisso do jornalista é com a verdade. As fake news encontraram nas mídias sociais um facilitador. 
  • Existe uma relação íntima entre meio ambiente e ciência; no jornalismo ambiental essa análise pode ser tranquilamente projetada.
  • Quem trabalha com meio ambiente, trabalha com direitos humanos.

É de conhecimento público que as fake news são um problema grave no século 21. Porém, quando o assunto é meio ambiente, a disseminação de mentiras não é novidade. Na década de 1980, os cientistas da Exxon descobriram um modelo que demonstrava, com certeza, os impactos das ações dos homens e da queima de combustíveis fósseis no clima do planeta. A empresa abafou o caso e passou a financiar campanhas de desinformação com visões contraditórias. Uma delas, por exemplo, visava atrelar o aquecimento global à radiação solar. Com isso, uma das maiores petroleiras do mundo conseguiu atrasar em aproximadamente 20 anos a tomada de ações globais contra as mudanças climáticas.

O método utilizado pela petrolífera, na época, foi o mesmo adotado pela indústria do tabaco quando surgiram os primeiros estudos associando seu produto ao câncer: gerar dúvida.

Sobre essa estratégia, Claudio Angelo, que é coordenador de Comunicação do Observatório do Clima, ressalta que dados científicos são baseados em certezas. Por isso, diz ele, não vale, frente ao cenário da crise climática, espaço para o contraditório, tão valorizado na ética do jornalismo. “Já ouvi muito o argumento de que o leitor precisa saber que existe uma certa visão, mesmo que seja para saber que ela está equivocada, mas discordo. É um tema que sempre tem dois lados, mas um dos lados está certo, e o outro está errado”, destaca ele, enfatizando que, antes de tudo, o compromisso do jornalista é com a verdade. Como existe uma relação íntima entre meio ambiente e ciência, no jornalismo ambiental essa análise (baseada em ciência) pode ser tranquilamente projetada.

O método adotado, no século passado, pela Exxon e por tantas outras grandes corporações ainda existe. Porém, no século 21, as fake news encontraram nas mídias sociais um agente facilitador. Se, antigamente, para se disseminar uma informação falsa era preciso ter acesso ao veículo de comunicação, ou a alguém que tivesse acesso a eles, atualmente basta ter um perfil em uma plataforma digital para espalhar mentiras. Vale lembrar que, no passado, ter acesso aos meios de comunicação envolvia altos custos financeiros com publicidade ou com serviços de relações públicas para tentar emplacar conteúdo noticioso na imprensa.

A linguagem representa outro desafio. Por sua proximidade com a ciência, a pauta ambiental – especialmente a climática – traz uma forma de expressão técnica e científica que a distância do público em geral. A ciência em geral é um corpo de conhecimento que fala uma língua própria, e a climática vai no mesmo caminho, segundo Claudio Angelo. “Um exemplo são os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que estão cada vez menos entendíveis. O clima sempre foi, por excelência, uma área propensa à desinformação; parte disso é por conta da complexidade do código”, explica.

Traduzir essa linguagem exige esforço e muito estudo por parte dos jornalistas. Porém, certamente essa dedicação será recompensada, pois a pauta ambiental e climática não sairá nunca mais das redações.

“Temos uma transição energética começando a acontecer e precisaremos de pessoas preparadas para cobrir tudo isso. Esse tema envolve, ainda, no caso de países como Brasil, o uso da terra, porque temos a maior parte das nossas emissões vinculadas ao desmatamento e à atividade pecuária. Isso tudo vai dar muita notícia”, antecipa o jornalista.

Saiba mais:

Observatório do clima
https://www.oc.eco.br
Fakebook.eco
https://fakebook.eco.br
Clima Sem Fake
Aquecimento global e o negacionismo – com Alexandre Costa
ClimaInfo
“Veja o que eu falo, não o que faço”: o greenwashing da ExxonMobil
Inside Climate News
Exxon the road not taken
Vaza, falsiante! (curso de fact-checking online)
https://vazafalsiane.com/curso/
Checazap (checagem de fake news)
https://enoisconteudo.com.br/checazap

Sobre o jornalista:

Claudio Angelo é coordenador de Comunicação do Observatório do Clima e autor de “A Espiral da Morte – como a humanidade alterou a máquina do clima” (vencedor do Prêmio Jabuti, em 2017). Foi editor de Ciência da Folha de S.Paulo.