Jornalismo Socioambiental: exercício do olhar sistêmico é fundamental

Nesta aula, a jornalista Lylian Rodrigues, editora do podcast “Fala, Amazônia!” e docente de jornalismo da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), fala sobre a necessidade de o jornalista ambiental exercer um olhar sistêmico na cobertura jornalística socioambiental, levando em conta todo o contexto no qual a notícia está inserida.

Destaques da aula:
  • O olhar para a dimensão ambiental no âmbito do jornalismo é recente.
  • O  jornalismo ambiental parte do jornalismo científico e precisa extrapolar a narrativa factual, explorando o contexto no qual a notícia está inserida (social, político, econômico, histórico, etc.).
  • É preciso incluir nessa conceituação a sociobiodiversidade, ou seja, olhar como ela influencia a vida das pessoas.
  • O papel do jornalismo socioambiental é o de educar e subsidiar a formação de opinião da sociedade.
  • O jornalismo socioambiental trabalha em rede com universidades, cientistas, bases de dados, etc.. O jornalista precisa ter o aprendizado de recursos técnicos de mapas, gráficos e índices; o conhecimento de ecossistema e políticas; as sociologias (povos tradicionais, mulheres, quilombos, pescadores, etc.); e o rastreamento de dinheiro público.

O olhar para a dimensão socioambiental, no âmbito do jornalismo, é relativamente recente. A primeira entidade de jornalismo ambiental nasceu em 1968, em um evento da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em Paris. No Brasil, só em 2009 teve início a discussão sobre a entrada ou não dessa abordagem na grade curricular das graduações de Jornalismo.

No espectro mais amplo, o valor ambiental ganhou espaço em terras brasileiras em 1992, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92. A partir disso, tivemos avanços, como a criação da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, em 1998, e a promulgação da legislação sobre educação ambiental, em 1999.

Porém, o desafio de se pensar o que é meio ambiente ainda existe, pois este é um conceito que ainda está em evolução. O senso comum tende a relacionar o termo diretamente à “natureza”, mas a professora Lylian Rodrigues destaca que tal viés não abarca sua complexidade. Ela enfatiza que “precisamos incluir, nessa conceituação, a sociobiodiversidade, o que significa incluir as pessoas”.

Ela ressalta que o jornalismo ambiental não é eco-desastre. As tragédias vêm de uma história, e tratar apenas o evento em si é fragmentar a narrativa e deixar de possibilitar ao leitor, ou espectador, compreender a situação em seu contexto amplo.

Por seu viés político e social, o jornalismo ambiental precisa extrapolar a narrativa factual, que é habitual em redações, por meio da qual o repórter vai às ruas e precisa trazer três ou mais matérias para serem veiculadas em um único dia. Para isso, é preciso mais tempo de pesquisa, reflexão e produção. 

Os papéis do jornalismo ambiental são também os de educar e de subsidiar a formação de opinião da sociedade, tendo, assim, a responsabilidade de construir narrativas que conectem com pessoas de todos os níveis de instrução e de diferentes classes sociais.

Ao contar uma história, o jornalista ambiental precisa conceituá-la no tempo e no espaço, trazendo dados de passado, presente e futuro. “É preciso contar o mundo e colocar a pessoa lá, inserida no cenário, como parte daquele contexto no qual está em crise. A narrativa precisa provocar, no receptor, a ética e a moral que a gente necessita”, explica Lylian.

Saiba mais:

Livros
Comunicação, jornalismo e meio ambiente: teoria e pesquisa, Wilson da Costa Bueno.  São Paulo: Mojoara, 2007.
Webjornalismo: da pirâmide invertida à pirâmide deitada, de João Canavilhas, 2006.
O jornalismo e suas narrativas: as brechas do discurso e as possibilidades do encontro, de Fernando Resende. Revista Galáxia, São Paulo. n.18, p. 31-43, dez 2009.
Homo Literatus
Walter Benjamin e a arte de narrar

Sobre a professora:

Lylian Rodrigues é editora do podcast “Fala, Amazônia!”, professora de Comunicação Comunitária, Comunicação Política e Jornalismo Ambiental e docente do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/2013), é graduada em jornalismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA/2004). Integra o Grupo de Pesquisa Comunicação, Cultura e Política (UNIFAP/CNPq) e coordena a Agência Experimental de Comunicação (AGCom).