Emergência climática e as consequências do aquecimento

Nesta aula, o economista e matemático Sergio Margulis, autor do livro “Mudança do clima: Tudo que você queria e não queria saber”, traça um panorama sobre a situação atual de emergência climática no planeta e lança olhares para futuros possíveis. Margulis aponta o que precisa ser feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e indica quais são as consequências catastróficas no caso de não adoção dessas medidas.

Destaques da aula:
    • A temperatura média do planeta já se elevou em 1,1°C, e o objetivo almejado é manter este aumento abaixo dos 2°C, na comparação com o período pré-industrial. 
    • Nos últimos dez anos, registrou-se o período mais quente da história da Terra e, não por coincidência, o número de desastres naturais, a maioria decorrente de questões envolvendo a crise climática, se multiplicou.
    • A concentração de CO₂ (dióxido de carbono) na atmosfera subiu de um teto de 300 ppm (partes por milhão), identificado anualmente até o período do pós-guerras, para 407 ppm, em 2018.
    • No cenário atual, 10% das emissões advém dos 50% mais pobres em todo o planeta, enquanto os 10% mais ricos emitem 50% do total. 
    • Para frear o aquecimento é preciso mais eficiência produtiva, melhores práticas e novas tecnologias, com mudanças severas nos padrões de extração de matérias-primas, produção, consumo e descarte.

Desde 1988, quando foi lançado o primeiro relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o mundo já tem comprovações científicas robustas dos impactos que as emissões de gases causadores de efeito estufa estão provocando no clima do planeta.

Ainda assim, as emissões globais seguem aumentando de forma expressiva, e as metas estabelecidas pelos países membros dos acordos firmados no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), inicialmente com o Protocolo de Quioto, assinado em 1997, e depois com o Acordo de Paris, assinado em 2015, não devem ser cumpridas.

Atualmente, a temperatura média do planeta já se elevou em 1,1°C, e o objetivo almejado é manter este aumento abaixo dos 2°C, na comparação com o período pré-industrial. Porém, em 2021, o chamado “orçamento de carbono”, que é o volume de gases de efeito estufa que a humanidade pode lançar para que o limite de 2°C seja possível – já havia sido consumido em 91%. A concentração de CO₂ (dióxido de carbono) na atmosfera subiu de um máximo de 300 ppm (partes por milhão), que se manteve até o período do pós-guerra, para 407 ppm, em 2018, e 413,2 ppm, em 2020.

As consequências das mudanças climáticas geradas pela concentração destes gases de efeito estufa na atmosfera já são sentidas em muitos lugares. O Brasil viu, em 2011, enchentes sem precedentes na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, que deixaram centenas de mortos. Pouco depois, em 2014, o estado de São Paulo vivenciou uma crise hídrica que deixou milhões de pessoas com torneiras secas. Mais recentemente, neste ano de 2022, o estado de Recife também teve enchentes sem precedentes. Em 2019, em Paris, na França, uma onda de calor fez os termômetros baterem quase 50°C, provocando milhares de mortes. Nova onda de calor atingiu a Europa neste ano.

Nos últimos dez anos, registrou-se o período mais quente da história, e, não por coincidência, o número de desastres naturais, a maioria decorrente de alterações climáticas, se multiplicou. Segundo Margulis, tudo isso ainda pode piorar se o modelo de desenvolvimento e consumo adotado, principalmente pelos países ricos, não mudar.

Dentre os possíveis resultados alarmantes estão alguns pontos de inflexão como a desintegração da camada de gelo do Polo Sul, que poderia provocar, de imediato, um aumento do nível do mar, atingindo cidades costeiras; a exposição do permafrost, uma camada de matéria orgânica compactada e coberta por gelo, existente em locais de alta altitude e com alta concentração de metano, que seria lançado na atmosfera caso o gelo deixe de existir; e a savanização da floresta amazônica.

Para o economista, a responsabilidade de mudança frente a este panorama encontra-se, principalmente, nas mãos dos mais ricos, uma vez que, no cenário atual, 10% das emissões advêm dos 50% mais pobres em todo o planeta, enquanto os 10% mais ricos emitem 50% do total. Para frear o aquecimento global é preciso mais eficiência produtiva, novas tecnologias e melhores práticas, com mudanças severas nos padrões de consumo.

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Saiba mais:

Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
Climate Change 2021
Clima Sem Fake
Frear a crise climática é urgente, com Paulo Artaxo
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Mudanças climáticas globais, Amazônia e o futuro do planeta, com Paulo Artaxo

Sobre o professor:

Sergio Margulis é pesquisador sênior associado do Instituto Clima e Sociedade, da WayCarbon e do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) e atua como economista-líder da Convergência pelo Brasil. Graduado em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, possui mestrado em Estatística pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e doutorado em Economia Ambiental pela Imperial College of London. Foi secretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; assessor especial da Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; economista de meio ambiente do Banco Mundial, em Washington DC; e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).