BP “pechincha” compensação de emissões com agricultores pobres no México

BP Coatilia México
Cortesia/Pronatura

A gigante fóssil BP é uma das petroleiras que mais tem declarado compromissos contra a mudança do clima e promessas de “descarbonização” de seus negócios no longo prazo. Pressionada por investidores, reguladores governamentais e até mesmo clientes, a empresa abandonou a reticência característica do setor petroleiro das últimas décadas para declarar publicamente seu abraço à agenda “verde”.

Entretanto, a Bloomberg revelou que uma parte desse esforço “verde” está se dando às custas de milhares de pequenos produtores rurais de uma das áreas mais pobres do México. Há três anos, líderes da comunidade de Coatitila, no estado de Veracruz, firmaram um acordo com a BP para pagar esforços de reflorestamento e manejo florestal pelos produtores, com a expectativa de que eles recebessem até US$ 44 mil por ano. No entanto, eles receberam apenas um pagamento, no final de 2021, que não chegou a US$ 40 para cada um dos 133 produtores que participam da iniciativa.

Assim, a BP conseguiu “compensar” no papel parte de suas emissões a um custo irrisório, cerca de US$ 4 por tonelada, muito abaixo do valor despendido por outras empresas no offset de suas emissões.

“É muito injusto”, reclamou Álvaro Tepleta, líder comunitário que atuou no estabelecimento do acordo. “Você só fica sabendo disso depois”.

Por conta deste caso, o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador pediu na semana passada ao Congresso mexicano a regulamentação do mercado de offset no país. A BP afirmou que a remuneração para compensação deve mudar, com a promessa de alinhar os pagamentos ao valor de mercado da tonelada de CO2.

Em tempo: Por falar em Big Oil, a Bloomberg publicou duas notícias recentes sobre a petroleira Shell. A primeira trouxe novas reclamações de reguladores publicitários nos Países Baixos sobre as peças de propaganda da empresa; de acordo com eles, a Shell continua desinformando seus clientes sobre os esforços climáticos da empresa e o impacto de seus negócios sobre o clima global. As peças informam que os clientes podem pagar mais quando compram seu combustível para “compensar” a poluição gerada por esses produtos. “A Shell não tem como demonstrar que a compensação de CO2 por meio da proteção de florestas ou pelo plantio de árvores elimine os danos causados pela gasolina”, diz o comitê do código de publicidade holandês. A outra notícia mostra a preocupação da Shell em limpar sua barra com a geração Z: a empresa está contratando um gerente para administrar seu canal no TikTok, rede social preferida dos nascidos no pós-2000 – não coincidentemente, a mesma geração que hoje se mobiliza contra governos e empresas por conta de sua responsabilidade histórica pela crise climática.

 

ClimaInfo, 4 de julho de 2022.

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