Bruno e Dom: um mês depois das mortes, Vale do Javari segue tomado pelo medo

Justiça por Dom e Bruno
Ilustração @crisvector

Há exato um mês, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assassinados em Atalaia do Norte (AM), no Vale do Javari. O crime bárbaro, supostamente cometido por pescadores ilegais descontentes com a atuação de Pereira em defesa dos Povos Indígenas da região, recolocou no noticiário internacional o descontrole do governo federal no combate a ilegalidades na Amazônia, intensificando o mau humor externo com o atual presidente brasileiro.

Para os indígenas do Vale do Javari, no entanto, a atenção externa não melhorou a situação de insegurança que impera floresta adentro. Na Folha, João Gabriel destacou o clima de medo que persiste em muitas comunidades: nem mesmo a presença de forças de segurança pública e militares está aplacando o temor de que grupos criminosos que controlam a região possam retaliar aqueles que colaboram com as investigações sobre os assassinatos de Bruno e Dom. O medo é maior na área rural de Atalaia do Norte, onde a presença policial e militar é bem menor do que no centro urbano do município.

“Aqui, nesta faixa de fronteira, tudo pode acontecer. Uma região onde reinam atividades ilícitas. Tudo isso faz com que a gente viva inseguro neste momento, e não dá para hoje esquecer o que aconteceu ontem”, comentou Manoel Chorimpa, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA). “Sei que várias consequências ainda vão acontecer, por isso é importante a efetivação da atuação da segurança do Estado na região”.

Enquanto as investigações sobre os assassinatos de Bruno e Dom seguem no Amazonas, a Folha informou que a Defensoria Pública da União e o Ministério Público Federal protocolaram no último domingo (3/7) um pedido de indenização por danos morais coletivos contra o governo federal no valor de R$ 50 milhões. Além da compensação financeira, a ser direcionada para a proteção dos Povos Indígenas Isolados e de contato recente, a ação cobra da FUNAI um plano de reforço da atuação das frentes de proteção etnoambientais no Amazonas.

“O governo é cúmplice direto e participante dos assassinatos [de Bruno e Dom]”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (AP) para o jornalista Tom Phillips no Guardian. “A política do governo de desmantelar e desestruturar [as salvaguardas indígenas e ambientais] é responsável direta pela situação atual do Vale do Javari”. O senador participou da comitiva do Congresso Nacional que visitou Atalaia do Norte na semana passada para acompanhar as investigações e conversar com representantes indígenas do Vale do Javari.

Em tempo: Nem mesmo a memória escapa da fúria dos criminosos que espalham violência, ódio e medo na Amazônia. O g1 informou que uma estátua do líder seringueiro Chico Mendes no centro de Rio Branco (AC) foi derrubada por vândalos na 6ª feira (1/7). A filha dele, Angela, denunciou a ação nas redes sociais. “A estátua do meu pai totalmente abandonada. A gente está percebendo claramente qual a importância que esse governo tem dado à trajetória, a história do ambientalismo no estado e no Brasil”, comentou. “A gente está falando da imagem do patrono nacional do meio ambiente, uma pessoa reconhecida nacional e internacionalmente, mas que aqui, em seu estado, é tratado com todo esse descaso”.

 

ClimaInfo, 5 de julho de 2022.

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