Oceanos, clima e os impactos da indústria pesqueira

Nesta aula, a engenheira de Pesca Ana Paula Prates aponta como as mudanças climáticas estão alterando o clima e, por consequência, modificando a química e a circulação dos oceanos, o nível do mar e a distribuição de gelo. Ela fala sobre os impactos críticos desse cenário nos hábitats marinhos, nas produtividades biológicas e nos recursos marinhos que sustentam muitos dos benefícios econômicos do mar.

Destaques da aula:
  • Por meio do ciclo hidrológico, os oceanos incidem em todo o clima global, determinando chuvas, secas e inundações.
  • Os oceanos produzem 55% do oxigênio do planeta e armazenam carbono em grandes proporções em seus ecossistemas.
  • Até hoje, os oceanos absorveram cerca de um terço do CO2 produzido no planeta e retiveram em suas águas mais de 90% do calor provocado pelo aquecimento global.
  • O  aquecimento provoca a desoxigenação e a acidificação das águas oceânicas, o que resulta em branqueamento dos corais, proliferação de algas tóxicas e destruição de hábitats, dentre outros. Também é responsável pela elevação do nível do mar. 
  • A atividade humana já causou impactos negativos em 66% dos oceanos.

Ao abordar a temática das mudanças climáticas, é comum que o olhar das pessoas se volte para as florestas e outros biomas terrestres. Porém, os oceanos – ou apenas “o oceano”, já que a divisão de nomenclatura das águas oceânicas existe apenas no âmbito geopolítico – têm grande influência na regulação do clima e, consequentemente, sofrem impactos significativos na crise climática que o mundo vive.

Para compreender a relevância do oceano no clima, basta lembrar do ciclo hidrológico, que move continuamente a água pelo planeta, no processo de evaporação, condensação e precipitação. Assim, o oceano incide em todo o clima global, contribuindo para determinar chuvas, secas e inundações.

Além disso, o oceano produz 55% do oxigênio do planeta e armazena carbono em grandes proporções em seus ecossistemas. Bons exemplos desse serviço ambiental são as baleias – animais capazes de retirar da atmosfera o gás carbônico (CO2) equivalente a 35 mil árvores –, e os recifes de corais, compostos principalmente por carbono.

Até hoje, o  oceano absorveu cerca de um terço do CO2 produzido no planeta e reteve em suas águas mais de 90% do calor provocado pelo aquecimento global. O volume total de calor absorvido pelas águas oceânicas, nos últimos 25 anos, equivale à explosão de 3,6 bilhões de bombas de Hiroshima.

Ao absorver tanto carbono, há o aquecimento exagerado do oceano, resultando na desoxigenação e na acidificação da água. O aquecimento global faz com que tenhamos não apenas a elevação do nível do mar, mas também impactos como branqueamento dos corais, o florescimento de algas tóxicas, e a destruição de hábitats, dentre outros.

Atualmente, a atividade humana já causou impactos negativos em 66% dos oceanos, com ações como sobrepesca e pesca destrutiva, poluição urbana industrial e hospitalar, tráfego marítimo, extração de petróleo e gás e mineração marinha, além daqueles provocados pelas mudanças climáticas.

Esse cenário é ruim nos aspectos ambiental, social e econômico, já que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), três bilhões de pessoas em todo o mundo dependem da biodiversidade marinha para a subsistência.

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado em 2022, sugere medidas de adaptação que deveriam ser adotadas pela humanidade para reduzir os prejuízos causados aos ecossistemas oceânicos e os impactos das mudanças climáticas. Algumas delas são o reforço e a restauração dos recifes de coral; a criação de barreiras de proteção em zonas costeiras, para proteger cidades da elevação do nível do mar; a elevação de portos; e a expansão das áreas marinhas protegidas.

Saiba mais:

Cursos ClimaInfo
Apostila Oceano e Clima
Aula Sistemas costeiros e marinhos da Amazônia, com Valdenira Ferreira dos Santos
Vídeo sobre Acidificação dos oceanos
High Level Panel for a Sustainable Ocean Economy
https://www.oceanpanel.org/
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
Sexto Relatório de Avaliação – Mudança Climática 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade

Sobre a professora:

Ana Paula Prates é engenheira de Pesca pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), mestre em Ciências da Engenharia Ambiental pela USP e doutora em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB). Realizou pesquisa de pós-doutorado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se, há mais de 28 anos, às áreas de políticas públicas para a biodiversidade aquática, com ênfase em áreas protegidas, conservação e uso sustentável da biodiversidade costeira e marinha e às relações entre oceano e clima. Servidora pública licenciada do Ministério do Meio Ambiente, onde já atuou como diretora de Áreas Protegidas e diretora de Ecossistemas, Ana Paula é professora do Programa de Mestrado e Doutorado Profissional em Biodiversidade em Unidades de Conservação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Também atua como conselheira da Liga das Mulheres pelo Oceano, além de ser membro da Comissão Mundial de Áreas Protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). Atualmente, atua como especialista sênior do Instituto Talanoa.